do outro lado do mundo,[15] é trazida para a Dinamarca e, de um dia para outro,
colocada num pedestal absurdo. Estamos falando de muito dinheiro, milhões e
milhões de coroas, e todo mundo a aclama, a aplaude, acha que ela é adorável, a
criatura mais fantástica que já pôs os pés no mundo. E depois ela vai e fica tão
decepcionada comigo, uma ex-jornalista da Billed-Bladet que ninguém quer escutar
de jeito nenhum, só porque me permiti ser um pouco crítica. Poxa, eu fico quase
comovida! E sabe o que isso mostra?
- Não.
- Mostra que o melhor que a gente pode fazer é baixar a cabeça. Ninguém noticia
nada de ruim sobre a Casa Real. Ninguém quer saber da história de verdade. - E qual é a história de verdade?
- Uma história negra como breu. Séculos e séculos de déspotas que reprimiram
toda e qualquer tentativa de oposição, que prenderam e executaram os adversários,
que nunca cederam voluntariamente nem um milésimo que fosse. Quanto tempo
faz que a rainha visitou o emir de Bahrein e o condecorou com a Grã-Cruz da
Dannebrog? Dois anos? E ela declarou que o emir era um soberano muito
preocupado com os súditos, ou alguma merda do tipo. – Tine tinha saliva nas
rachaduras dos lábios. Eva baixou os olhos enquanto a outra prosseguia com sua
diatribe. – Estamos falando de um ditador que tiraniza e mata sistematicamente.
Hermann Göring, o braço direito de Hitler, recebeu de um rei nosso a mesma
condecoração. A lista de tiranos que condecoram outros tiranos não tem fim. E,
quando a rainha passeia de carruagem pela cidade e ficamos assistindo e agitando
bandeirinhas na calçada, com a criançada sentada no ombro, estamos festejando
uma família que há séculos enriquece à custa dos outros, uma família que mandou o
povo para inúmeras guerras absurdas, impossíveis de vencer, só para poder
enriquecer ainda mais. As pessoas comuns precisaram lutar por cada um dos
direitos e bens adquiridos. A Coroa dinamarquesa é um símbolo de repressão. Nem
mais nem menos. O fato de os cidadãos da Dinamarca acharem que a Coroa