dormir; ainda não. A outra menina havia sorrido, ou coisa parecida, para Eva; era o
que recordava. O que foi mesmo que disse à psicóloga, muitos anos depois, na
primeiríssima consulta, passados alguns meses da morte de Martin? Uma coisa que
a psicóloga tinha achado fantástica. Uma coisa que Eva, na versão pequena de si
mesma, aos cinco anos, tinha pensado, deitada numa das camas do dormitório,
junto com as outras meninas.
Eva não tinha certeza. Estava num cômodo oval, com janelas redondas, paredes
grafitadas. Aquele podia ser o dormitório onde, no meio da noite, havia se erguido
na cama. Onde tinha olhado para as outras meninas. Onde tinha pensado que
nunca mais veria a mãe e que estava sozinha no mundo. Foi nisso que pensou.
Estava sozinha como as demais. E depois pensou em outra coisa, que também
contaria à psicóloga – por que tinha tanta dificuldade em lembrar? No fim das
contas, tinha concluído que, se todas as meninas do dormitório conseguiam
aguentar, ela também conseguiria. Tudo se ajeitaria. Conseguia ficar sozinha.
Estava bem com aquilo.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1