pequenas e grandes. Eva viu perto de Kamilla um menino que talvez fosse Malte.
Ele estava de costas. A altura coincidia, o cabelo também, mas alguém encobria a
vista de Eva. Ela deu meia-volta e tentou chegar lá por trás, rodeando a estátua; era
complicado porque estava indo no contrafluxo. Não queria encarar os adultos da
creche. Levariam um susto. “Por que você sumiu? Foi você que roubou o carro da
Anna? Que não voltou com ele? Que está pirada?” “É, fui eu. Aquela que afanou o
celular, mentiu para vocês, largou o carro no centro de Copenhague e deu no pé.
Mas não fui eu quem esqueceu uma criança no mato. Não fui eu quem deu tiro na
cabeça de um homem. Não fui eu quem encobriu a verdade.”
- Com licença – disse Eva, interrompendo assim os próprios pensamentos. –
Excuse me.
Malte. Sim, era ele. Tinha se afastado um pouco dos outros. Levava uma
bandeirinha na mão. Parecia triste. Eva esperaria até que a família real saísse à
sacada. Aí todos os olhares estariam voltados para eles, não para Eva.
Nos metros finais, abriu caminho aos empurrões. Kamilla se voltou. Eva olhou
para baixo. Afastou-se. Será que a tinham descoberto? De repente, um grito
sufocado, como o som de uma psicose coletiva, percorreu a multidão, e todos
olharam para a sacada do palácio. A rainha e o príncipe consorte saíram, seguidos
pelo príncipe herdeiro, pela princesa consorte e pelos filhos destes. Um cartão-
postal vivo. Ao lado de Eva, uma senhora parecia a ponto de desmaiar. A multidão
ao redor se apinhava tanto que Eva quase não conseguia se mexer. A rainha
levantou a mão e acenou. Um grupo de crianças à frente de Eva retribuiu o
cumprimento e gritou. Eva nunca mais teria chance melhor. Precisava tocar Malte
para que ele se voltasse. - Malte?
O menino se virou. Teria reconhecido Eva? “Sim”, ela pensou. Era até possível
que Malte estivesse sorrindo. - Você se lembra do desenho que me deu? – ela perguntou, e teve medo de ter