uma das crianças nos ombros, as pedras do calçamento debaixo dos pés de Eva, o
rosto abatido de Malte. “Nada de pânico”, pensou, tentando convencer a si mesma,
mas...
Fez o que pôde para ir embora. Empurrou uma jovem mãe e sopesou as duas
possibilidades que tinha – tentar afastar-se dali ou entrar ainda mais na multidão,
apostar em sua proteção. Optou pela segunda. Se saísse correndo, ficaria totalmente
exposta. Não, tinha que confundir-se com a multidão, perder-se entre as pessoas.
Agachar-se. Estariam vindo atrás dela? Não sabia. Era impossível determinar. Eva,
de caso pensado, procurou os pontos de maior apinhamento, onde literalmente não
se enxergava um palmo adiante do nariz.
- Com licença – ia dizendo, abrindo caminho a cotoveladas. – Cuidado.
Voltou a ter ar ao redor de si. Conseguia mover-se, enfim. Embora soubesse do
risco de não estar ao abrigo da multidão, sentiu grande alívio no corpo. Agora tinha
como virar-se. Ali! Um deles, de óculos escuros, cabelo cortado quase a zero, estava
a uns vinte ou trinta metros. Talvez a tivessem perdido de vista. Talvez nem
estivessem atrás dela. Talvez não fosse mais que uma doida que assediava meninos,
afanava celulares e carros e não prestava para nada.
Apertou o passo, saiu da multidão, enfiou-se correndo no parque, o Amaliehaven,
deixou o chafariz para trás e seguiu rumo ao porto. Não se voltou. Simplesmente
continuou correndo. Sentiu como soprava a brisa perto do mar, como o ar tinha
gosto de sal. Uma barca turística estava prestes a zarpar. Os passageiros subiam a
bordo. Eva não sabia se seria inteligente fazer o mesmo, mas acabou subindo ainda
assim, ofegante. As pessoas olhavam para ela; já não se importava. Não viu ninguém
no cais. Viam-se o castelo e os quatro palácios de Amalienborg. Eva teve muita
dificuldade para tomar fôlego. Pensou em Malte; no olhar dele, que tinha se
desviado para uma direção que não era a do resto da multidão; em sua mãozinha,
com aquela pinta. Pensou no que ele apontava. Para o homem? Para quem? “Não”,
pensou, “não para quem. Para o quê.” Sentou num banco, olhou para a água e