Eva prestou mais atenção. Eram os dois filhos da rainha. Rigmor segurava o
príncipe herdeiro no colo. O irmão menor estava ao lado, sem olhar para a câmera.
- Você era funcionária dos palácios?
- Não vamos ser tão específicas.
- Por que não?
- Melhor falar de funções.
- Não estou entendendo bem.
- Qual é a sua função?
- Minha função?
- Querida, a gente não passa de peças num grande jogo. Todo mundo, sem
exceção. Somos coisas que eles podem usar ao seu bel-prazer. Do mesmo jeito que
no tabuleiro de xadrez. Peões. Bispos. Cavalos. Eu era cavalo – disse Rigmor. Antes
de continuar, apagou o cigarro no cinzeiro, ao mesmo tempo que acendia outro. –
É você quem põe a mão na banheira para ver se a água está boa? - Na banheira de quem? Desculpe-me, o seu jeito de falar é muito cifrado. Mas,
por favor, continue. - Ou pega a roupa e a coloca pronta em cima da cama? Ou passa? Ou troca os
lençóis? Algumas vezes até à tarde, se alguém fez a sesta. Ou é quem carrega mala,
engraxa sapato, limpa chão? – Inclinou-se para a frente e sussurrou. – Ou é você
quem ajuda com a boca ou com a mão? – perguntou, e fez um gesto feio com a
esquerda, como se estivesse masturbando um homem. – É uma das funções que
você pode ter. - E qual era a sua?
- Um pouco de tudo. Nada de limpeza. Como já disse, eu era cavalo. Pulava, dava
saltos enormes, para eles. Dia e noite. - E foi despedida?
Rigmor deu de ombros. - E está brava com eles? Com quem?