Distrito de Nørrebro, Copenhague – 21h30
“Quanta feiura!”, pensou Marcus. Placas de amianto decompostas que pendiam
do teto; cabos soltos que acabavam em emaranhado total; a poeira que cobria tudo,
que ficava suspensa no ar, que penetrava pelos poros e por baixo das pálpebras, que
se grudava ao paladar e à cavidade bucal como a areia de um deserto distante.
Marcus não sabia para onde olhar. Optou por se concentrar na flor no peitoril da
janela do apartamento em frente. O sinal. A flor continuava lá. Ainda não tinham
localizado Eva. Pensou em David. Nos muitos sentimentos que tinha nutrido por
ele, sentimentos que nutria ainda. Porque tinham vivido muita coisa juntos.
Tinham lutado ombro a ombro, tinham visto as mesmas coisas – morte, miséria e
desgraça. E pensou em David como um soldado ferido que ele, Marcus, precisaria
abandonar no campo de batalha. Alguém a quem teria de dizer adeus para sempre.
Já não estavam do mesmo lado, e estava bem assim. Todo soldado sabia o
significado da despedida. Da família quando a gente ia embora, dos amigos em casa,
dos camaradas de armas quando um deles sucumbia, da própria vida. Marcus pegou
seu iPhone. Sentou no peitoril da janela. Podia passar de uma câmera de vigilância à
outra. Quatro delas transmitiam à perfeição; só aquela em frente ao Reden estava
um pouco fora de foco. Marcus talvez tivesse se apressado demais na hora de
instalá-la. Mas ela quebrava o galho; ainda conseguia ver quem entrava e quem saía.
Uma moça se aproximou do abrigo Danner, arrastando a mala pela calçada.
Hesitou em frente à porta. Afastou-se um pouco. Por quê? Porque tinha medo do