aconteceu alguma coisa à noite. Pelo que entendi, no começo da noite.
- Alguma coisa? O quê?
- Alvoroço, agitação, bate-boca.
- Quem bateu boca?
- Eu achava que você já tinha falado de tudo isso com a Rigmor.
- Eu gostaria que você mesma me contasse, com as suas próprias palavras. Você
esteve mais próxima. É importante. Talvez haja algum detalhe que...
A mulher a interrompeu: - Não sei o que a minha irmã contou, mas jantaram no Salão Rosa. No começo
estava tudo normal, mas depois aconteceu alguma coisa. O clima ficou pesado. Brix
e alguns homens passaram para o Taffelsalen. O pessoal ouviu gritos de lá. E depois
pediram aos funcionários que fossem embora, que saíssem do palácio na mesma
hora. - Já tinha acontecido antes?
- Pedirem que a gente vá embora?
- Sim.
- Muitas vezes.
- Mas o que você acha que aconteceu naquela noite?
- Não me pergunte.
- E por que não?
- Vamos ter que entrar por aqui – disse a mulher, e abriu um portão.
Eva ficou surpresa – estavam meio longe do palácio. Adentraram uma escuridão
densa. O piso era de pedra lavrada. Saía vapor de uma grade lateral. Pararam por
um momento, como se de repente a mulher hesitasse e estivesse prestes a se
arrepender. - Venha comigo – acabou dizendo. Atravessou outro portão, chegou a uma porta
e a abriu. Saíram num corredor com chão e paredes de cimento. O ar estava
carregado de umidade; ouvia-se o barulho de água que gotejava em algum lugar.