- Oi!
- Você tem que provar isto aqui.
- O que é? – Eva precisou então entrar na cozinha, onde cinco mulheres estavam
sentadas à mesa, comendo uma massa frita. - Halwa chebakia. Eu não comia desde que era menina. – Ofereceu um pedaço a
Eva, que experimentou. – Leva gergelim e mel. É doce demais para você? - Não, está gostoso, mas é que estou muito cansada.
- Parece mesmo – disse uma das outras. Sotaque da Europa oriental, um rosto
que tivera de aguentar um pouco de tudo e que desistira de continuar escondendo
isso. - Boa noite – disse Eva. – Guardem um pouquinho para eu comer amanhã.
As mulheres riram, e Eva ainda ouvia suas vozes quando sumiu corredor adentro
e abriu a porta que dava para a escada. Saiu para o outro corredor, enfiou a chave na
fechadura do quarto e entrou. A porta se fechou com um suspiro, um som repleto
de saudade e solidão. Acendeu a luz. Percorreu com o olhar o cômodo quase vazio
que constituía seu lar naquele momento. E talvez para sempre. As coisas mudariam
algum dia? “Não, agora não”, pensou. “Nada desses pensamentos idiotas, não esta
noite.” Aproximou-se da janela. Tirou os sapatos e as meias e sentou no peitoril,
como fazia tantas vezes quando era mais nova, logo depois que saiu da casa dos pais,
nos anos em que tinha muitos namorados, que em comum só tinham o fato de com
certeza não serem os caras ideais para ela, sabia muito bem, só servindo para
protegê-la do medo de ficar sozinha, medo que a mãe lhe havia transmitido. Muitas
vezes Eva tinha se sentado no peitoril das janelas olhando para o centro da cidade –
nos apartamentos dos distritos de Østerbro e Nørrebro, onde rachava o aluguel – e
ouvindo música. Ouvindo Emmylou Harris – por que estava pensando nela agora?
Sentada à janela do quarto no abrigo, sentiu-se, como nos velhos tempos,
inundada por uma grande calma, pela esperança de que ali estaria segura. Alguns
carros passavam pela rua. Nenhum parou; nenhum homem desceu deles.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1