Segurança. Repetiu mentalmente, algumas vezes, a palavra. Segurança. Gostou de
pronunciá-la, tanto rápido como devagar, até que, meia hora depois, desceu enfim
do peitoril, tirou a roupa e foi para a cama. Ficou deitada, pensando no palácio. Em
tudo o que tinha visto, em tudo o que tinha ouvido. E, talvez justamente porque se
sentia segura pela primeira vez em tanto tempo, Eva pensou no que tinha ouvido
sobre a violência. Violência contra os meninos, contra os dois príncipes quando
eram pequenos. Eles não puderam fugir para se esconder num abrigo; estavam
cativos, encurralados para sempre. Aprisionados pelas expectativas e ilusões sobre a
família. “É, principalmente pelas ilusões”, pensou Eva. A família que todo um país
admirava. A família em que todo um país se mirava. E o que veríamos quando nos
olhássemos no espelho? Veríamos felicidade, veríamos largos sorrisos, veríamos
beleza e amor, filhos bonitos, harmonia.
A última coisa que Eva viu antes de pegar no sono foram dois meninos pequenos.
Dois meninos pequenos aprisionados no palácio.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1