os olhos para a faca. Eva a puxou para fora. O sangue brotava do abdômen dele.
- Eva – ele disse.
Só isso. Esforçava-se para recuperar o equilíbrio. Olhou por cima do ombro para
o outro homem. Este tinha sumido. Quando tornou a olhar para Eva, ela cravou a
faca pela segunda vez. Eva sentiu o sangue lhe correr pela mão, como pequenos
insetos, em gotículas. Ela recuou para a porta do quarto andar. Precisava sair dali.
Apertava a faca com tanta força que, se a tivesse comprimido um pouco mais,
aquilo teria se transformado definitivamente em parte de seu corpo, algo impossível
de separar da mão. Uma olhada para trás. Ninguém. Na outra ponta do corredor,
uma voz gritou: - Há outra aqui dentro, na escada!
Eva desabou. Alguém a segurou; braços fortes a levantaram no ar. Gritou. Lutou
empunhando a faca. Queria matar aqueles desgraçados, todos eles; esfaqueá-los, pôr
as malditas entranhas deles para fora. Mas já estava sem a faca; alguém a tinha
tirado.
O homem, sua voz. - Calma, calma – disse um desconhecido. Os olhos deles surgiam por baixo do
capacete.
Outra voz. - Vamos tirá-la daqui.
E então Eva planou escada abaixo, como um pássaro que levantasse voo do ninho
pela primeira vez. Flutuava através do escuro, chegavam-lhe vozes, vozes sem
sentido. Já estava morta. Tinha quase certeza disso. Era uma delícia voar segura por
dois braços fortes. Agora estava fora do prédio. O ar e o frio. Era tudo o que sentia,
tudo de que precisava – o ar contra o rosto, o frio nas faces. E era uma sensação
agradável.