Enquanto ia para a escada, procurou Malte com o olhar. Kasper estava sentado na
Sala Vermelha, mas Eva não viu criança nenhuma. Subiu a escada até o corredor da
administração. A porta do escritório de Torben estava fechada. Ouviu discutirem
aos gritos lá dentro.
- Parece que estão no meio de alguma coisa importante.
Virou-se. Kamilla estava sentada no escritório de Anna, e na cadeira de Anna,
atrás da escrivaninha. Parecia muito à vontade. - Então volto mais tarde – disse Eva.
- Já está acabando.
- Você poderia dizer a eles que estive aqui?
Kamilla inclinou a cabeça. Tinha o cabelo preso, quando no dia anterior estava
solto, lembrou-se Eva. O coque na nuca lhe dava ar mais autoritário. Kamilla
parecia menos sensual, mas, enfim, se queremos avançar na carreira, precisamos
ocultar a sensualidade. Quando Eva olhava em retrospecto, uma coisa ficava clara:
todas as suas colegas, consciente ou inconscientemente, haviam tido de escolher
entre ir para a cama com os homens ou mandar neles. Não podiam fazer ambas as
coisas ao mesmo tempo. Ou desfrutavam as mãos deles sobre o corpo, a luxúria
incondicional dos homens, ou tinham o respeito deles. Kamilla ainda não tinha se
decidido por nenhuma das duas opções. - A Anna disse que você era jornalista.
Eva suspirou. Olhou para o chão e, pela porta fechada do diretor, pôde ouvir
Anna, que dizia: - É uma situação realmente complicada.
Kamilla perguntou a Eva: - Vocês não têm uma espécie de código de confidencialidade ou coisa parecida?
- Você está falando do sigilo profissional do jornalista?
- Isso.
- Só vale se estou escrevendo alguma matéria.