ques. Em compensação, essa oposição serviu para unir
marxistas revolucionários e bolcheviques – enfim, toda
a facção socialista, o que se mostrou mortal ao gover-
no, pois, nas eleições de setembro aos sovietes, depois de
abortado o golpe, os bolcheviques emergiram com ampla
maioria. Assim, o slogan “Todo Poder aos Sovietes” de-
veria ser lido como “Todo Poder aos Bolcheviques”.
Lênin apelou aos mencheviques de Kerenski que
passassem o poder aos sovietes e que, caso aceitassem,
os bolcheviques fariam oposição legal e constitucional.
Lênin abrira a brecha para um governo realmente revo-
lucionário dentro da legalidade, mas sua proposta foi re-
cusada. Estava selada a decisão de uma insurreição. Era,
a partir daquele momento, preparar a Revolução.
Stalin, como fora sua característica até aquele mo-
mento, trabalhava nos bastidores. Ao lado de Lênin e
Trotski, arquitetou a Revolução de Outubro (novembro
pelo calendário ocidental). Com o primeiro ainda no ex-
terior, ficou a cargo de Stalin a ligação entre seu líder e o
partido, enquanto Trotski militava no Soviete de Peters-
burgo. Em 15 de setembro, Stalin recebeu duas cartas de
Lênin que foram apresentadas ao Comitê Central. Elas
continham as seguintes orientações: “Os bolcheviques
devem tomar o poder” e “Marxismo e insurreição”.
A ideia de insurreição de Lênin rapidamente passou
a ser discutida pelo partido. Adeptos e opositores come-
çaram a dialogar a fim de chegar a um consenso. Trotski
concordou com a insurreição, mas achava que ela deve-
ria ser melhor planejada em termos políticos e militares,
e que estivesse associada aos sovietes. Após a tentativa de
golpe de Kornilov, os sovietes montaram o Comitê Mili-
tar Revolucionário, que passou a ser o defensor legal da
capital. O comitê era presidido pelo próprio presidente
do soviete, no caso, Trotski. Com isso, os bolcheviques
camuflavam a insurreição como algo legal.
“Trotski – todos os fios da insurreição estavam nas
suas mãos – conseguiu dar ao levante a aparência de uma
operação defensiva destinada a prevenir ou, antes, a rea-
gir à contra-revolução, expediente tático que trouxe os
setores hesitantes da classe operária e das tropas para o
lado dos insurretos”, escreveu Deutscher em sua biogra-
fia sobre Stalin, que não deixa de enxergar em Trotski o
grande herói da Revolução e Stalin como um aprovei-
tador. Essa é uma discussão que traremos mais adiante,
quando da briga aberta entre ambos.
Lênin retornou clandestinamente para a Rússia no
dia 8 de outubro. Sua presença servia para tentar de uma
vez jogar os bolcheviques na insurreição. No dia 10, em
reunião do comitê central, Kamenev e Zinoviev, altos
membros do partido, discursaram contra a insurreição:
“Diante da história, diante do proletariado internacio-
nal, diante da Revolução Russa e da classe operária rus-
sa, não temos o direito de arriscar todo o futuro, todas
as fichas no levante armado. Existem situações históricas
nas quais a classe oprimida deve reconhecer que é me-
lhor seguir até a derrota do que desistir da luta. Será que
a classe operária russa se encontra no momento em tal
situação? Não, mil vez não!!!”.
Era Kamenev e Zinoviev que os bolcheviques pró-in-
surreição tinham de combater, pois eles apoiaram a par-
ticipação do partido numa conferência que definiria o
que Kerenski chamou de “Pré-parlamento”. Na dita reu-
nião, Trotski juntou seus partidários e todos abandona-
ram o recinto aos brados de “Petersburgo corre perigo! A
Revolução corre perigo! O povo corre perigo!”.
No encontro do comitê, foi votado o caso, saindo vi-
toriosa a facção pró-revolucionária. A rigor, dos 12 vo-
tantes, apenas Kamenev e Zinoviev foram contrários. Na
mesma ocasião, foi eleito um politburo para a direção fu-
tura imediata após a insurreição. Entre os sete membros,
do politburo, constavam Lênin, Stalin, Trotski, Kame-
Na noite de 24 de outubro,
quando o governo ocupou as
instalações da gráfica do partido
bolchevique, uma delegação
de tipógrafos solicitou
ao Comitê Militar Revolucionário
que enviasse tropas
para garantir o
funcionamento do local.
Dali partiu o levante. A briga
teve início na gráfica e,
rapidamente, tomou
estações, ferrovias e pontos
estratégicos da cidade.
As tropas comandadas por
Trotski tomaram a capital
sem dar um tiro sequer