formações de que Stalin escondia as novidades de Lênin,
que mesmo assim, soube de ações nada dignificantes do
futuro ditador, como a repressão aos camponeses.
Querendo obter maiores informações a respeito do
X Congresso do partido, realizado em fevereiro de 1923,
Kuprskaia ligou para Stalin, que acabou sendo rude ao re-
preendê-la, e isso chegou aos ouvidos de Lênin. Em 5 de
março, Lênin escreveu a Stalin as seguintes linhas: “Vós
tivestes a rudeza de convocar minha mulher ao telefone
para repreendê-la. Não tenho a intenção de esquecer tão
cedo que isso foi feito contra mim, e é inútil sublinhar que
eu considero que o que é feito contra minha mulher é fei-
to contra mim. Por esta razão, eu peço, examineis seria-
mente se aceitais retirar o que dissestes e apresentai vossas
desculpas ou se preferis romper as relações entre nós”.
Assim, as palavras de Lênin podem não condizer com
o pensamento real dele a respeito de Stalin, pois, como
vimos, ele estava irado com o companheiro em razão da
confusão com sua esposa. Mas também é certo que ele
estava dando rumos à Revolução que Lênin não aprova-
ria por absoluto. Enfim, a verdade parece ser que, até a
guerra civil, Lênin via Stalin com bons olhos, mas suas
ações depois disso, e quando assumiu a direção do parti-
do, não o agradaram totalmente.
Ludo Martens, em “Stalin – Um Novo Olhar” (Re-
nan, 2003), assume a defesa do ditador explicitamente e
se coloca como um stalinista. A partir disso, já se pode
duvidar de muitas de suas colocações, mas há outras que
temos de aproveitar. Um de seus argumentos é o de que
Trotski e seus seguidores quiseram criar em torno do
testamento de Lênin um ar de que ali estava indicado
Trotski como seu sucessor. No entanto, nada em seu
texto sugere isso.
O pai da Revolução Russa, ao contrário do que diz
seu testamento, tinha enorme estima por ambos e, a par-
tir do momento em que a rixa entre eles se tornou ex-
plícita, passou a intermediar e a apaziguar os dois lados.
O testamento só foi divulgado em maio, quatro meses
depois de sua morte, e deveria ser lido no próximo con-
gresso do partido. Houve uma reunião do comitê central
para decidir se seria divulgado ou não o conteúdo. Na
ocasião, seria selado o destino de Stalin. E foi Zinoviev
e Kamenev que tomaram a defesa do futuro ditador, su-
gerindo que este permanecesse no cargo, pois “os temo-
res de Lênin se mostraram infundados”. Lembraram do
bom serviço de Stalin e colocaram que, se a decisão fosse
a da permanência, o testamento não deveria ser coloca-
do a público. A viúva protestou, Trotski se calou – “tinha
orgulho demais para intervir numa situação que tam-
bém afetava a própria posição”, segundo Deutscher – e
os votantes ratificaram. Stalin estava a salvo.
IDEIAS CONTRÁRIAS
A briga entre Stalin e Trotski teve início quando am-
bos se conheceram – em 1907 em congresso do partido.
A partir dali, um bolchevique e o outro menchevique,
passaram por situações opostas até que Trotski se con-
verteu ao bolchevismo, em julho de 1917, e tornou-se
um dos heróis da Revolução. O ódio de Stalin deve ter
crescido ao ver o colega recém-chegado ganhar popula-
ridade e a confiança de Lênin. Boa parte do partido não
gostava de Trotski em razão de seu passado, e isso facili-
taria o trabalho de Stalin para marginalizar o adversário
até sua eliminação do partido, da URSS e da vida.
A dissidência de Trotski com o Partido Comunista
veio a público quando ele publicou, em 1924, um prefá-
cio de seus escritos de 1917, chamado “As Lições de Ou-
tubro”. No texto, criticava a falta de estratégia revolucio-
nária de Stalin, e dizia que a indecisão demonstrada por
Kamenev e Zinoviev às vésperas da Revolução de Outu-
A briga entre Stalin e Trotski teve início quando ambos se
conheceram em 1907. A partir dali, um bolchevique e o outro
menchevique, passaram por situações opostas até que Trotski se
converteu ao bolchevismo, em julho de 1917, e tornou-se um
dos heróis da Revolução. O ódio de Stalin deve ter crescido
ao ver o colega recém-chegado ganhar popularidade e a
confiança de Lênin. Boa parte do partido não gostava
de Trotski em razão de seu passado, e isso facilitaria o trabalho
de Stalin para marginalizar o adversário até sua eliminação
do partido, da URSS e da vida