bro era absurda. Estas discordâncias afastaram mais ain-
da politicamente Trotski de Stalin.
Eles divergiam em várias questões, mas a principal
era a de como construir o socialismo. Para Stalin, a re-
volução socialista deveria ser consolidada internamente
na URSS, pois o país estava internacionalmente isolado
e sofrendo represálias comerciais. Nascia aí a tese do “so-
cialismo em um país só”, creditada a Stalin, mas, de fato,
desenvolvida por seu colega Bukharin, que seria morto na
década de 1930. Para Trotski, a revolução socialista de-
veria ser levada para onde o capitalismo estava em crise.
Acreditava ser inviável a construção do regime socialista
na URSS caso não ocorresse em outros países, afinal as
nações capitalistas acabariam com a URSS. Essa é a tese
da chamada “revolução permanente”, segundo a qual o so-
cialismo deveria ser construído em escala internacional.
Diante desse debate, Stalin saiu-se vitorioso. Sua per-
sonalidade condizia mais com a necessidade da ocasião.
Sua esperteza política contrastava com certo ar de inge-
nuidade de Trotski, que o impedia de perceber as mano-
bras nas hierarquias do partido travadas por Stalin. Se-
gundo Deutscher, “Trotski subestimava desdenhosamen-
te o rival; e até os últimos dias o trataria como ‘enfadonha
mediocridade’”. Quando Trotski se deu conta, a burocra-
cia do Partido Comunista estava toda controlada por se-
guidores de Stalin e seus partidários, isolados e sem poder
de decisão. A formação do triunvirato Stalin-Kamenev-
Zinoviev – dava maior poder a Stalin, já que os outros
dois eram também contrários a Trotski. Apenas alguns
anos depois veriam o erro que cometeram e tentariam
uma união a Trotski, mas aí já seria tarde demais.
Trotski foi perdendo todas as suas funções no gover-
no. O culto lêninista endossado por Stalin dava muni-
ção a seus opositores, que resgatavam críticas feitas por
ele no passado a Lênin, criando o retrato de um Trotski
contrário a Lênin, contrário, portanto, à União Soviéti-
ca. Não pôde fazer nada quando votaram pela sua expul-
são do partido, em 12 de novembro de 1927, quando foi
exilado na Sibéria em 31 de janeiro de 1928 e, para com-
pletar, quando foi expulso da União Soviética em 1929.
A MORTE DE TROTSKI
Fora da URSS, permaneceu na oposição a Stalin, re-
digindo comentários em um jornal fundado por ele. Ele
morou em diversos países antes de se fixar no México.
A partir de 1937, Trotski se dedicou a construir uma
alternativa à política dos partidos comunistas influencia-
dos por Moscou. Escreveu livros a respeito dessa buro-
cracia, sobre a Revolução de 1917 e mesmo sobre Stalin.
Passou a atuar contra o que ele chamou de uma “nova
aristocracia”, a aristocracia bolchevique, que teria detur-
pado os rumos da Revolução.
A teoria de Trotski ganhou maiores respaldo e cre-
dibilidade quando, posteriormente na História, as ações
de Stalin foram sendo reveladas. O combate à burocra-
cia bolchevique arquitetada por Stalin seria, quando re-
velada, uma das razões para a decadência do comunismo
soviético e de sua derrocada para o autoritarismo.
Em 3 de setembro de 1938, Trotski e seus seguido-
res fundaram a IV Internacional, herdeira do legado re-
volucionário de todas as organizações mundiais da classe
trabalhadora, para contrapor à III Internacional de Sta-
lin. Em uma carta aberta aos trabalhadores soviéticos,
Trotski falou: “O objetivo da IV Internacional é recuperar
a URSS na eliminação de sua burocracia parasitária”.
Era 1940, a URSS se preparava para entrar na guer-
ra. Talvez Trotski estivesse pensando nos mesmos mol-
des de 1917 – incitar uma revolução quando o gover-
no estivesse enfraquecido pela participação numa guer-
ra. Os críticos dele colocam que estava incitando uma
insurreição contra o governo soviético que acabaria aju-
dando os nazistas, o que equivaleria dizer que Trotski ia
contra seu próprio país. Na verdade, durante todo seu
período pós-exílio, ele não se calou. Continuava a escre-
ver e a enviar panfletos para a URSS. Sua luta tornara-se
outra – a derrubada do stalinismo.
As coisas se precipitaram naquele mesmo ano de
- Em 24 de maio, Trotski sobreviveu a um atenta-
do a mando de Stalin. Em agosto, houve um novo ata-
que, desta vez bem-sucedido. Um agente de nome Ra-
món Mercader conseguiu entrar disfarçado na casa de
Trotski aplicou-lhe um golpe de picareta em seu crânio.
Era o fim que Stalin queria para seu grande rival.
Umas das teses levantadas por Trotski e que não merece
credibilidade porque foi colocada sem provas, é a de que Stalin
teria matado Lênin. Trotski escreveu na década de 1930 que
certa vez, quando Lênin já estava moribundo, Stalin foi fazer-
lhe uma visita. Lênin teria morrido logo em seguida.
“Entretanto, numa reunião dos membros do Politburo, com
Zinoviev, Kamenev e eu, Stalin nos informou, depois que
o secretário saiu, que Lênin o havia chamado de repente e
lhe pedira veneno. Lênin estava perdendo a fala outra vez,
considerava sua situação sem esperanças, previa que iria ter
um novo derrame e não confiava nos seus médicos. Sua mente
estava perfeitamente clara e seu sofrimento era insuportável.
Mas será que Lênin de fato pediu veneno a Stalin? Ou terá
sido essa história toda nada mais que uma invenção de Stalin
para preparar o seu álibi? Ele não tinha por que temer uma
investigação, pois ninguém poderia interrogar Lênin, já tão
doente”, escreveu Trotski.
A verdade é que a morte de Lênin era do interesse de Stalin,
pois se manifestava como a grande chance dele tomar o poder
na União Soviética. Mas, historicamente, não há provas
desse envenenamento e a realidade aponta para um Lênin
extremamente doente e frágil desde 1922. Não teria razão para
Stalin matar um moribundo.
Stalin matou Lênin?