Grandes Ditadores da História - Hitler & Stalin - Edição 01 (2019-08)

(Antfer) #1

ele dirigiu “à sua majestade uma petição solicitando con-
sentimento para que servisse em um regimento bávaro”.
A resposta foi imediata. Segundo Hitler, “o gabinete mi-
nisterial tinha naquela época muitos assuntos com que se
ocupar, de modo que meu júbilo foi ainda maior, pois a
solicitação foi despachada favoravelmente no mesmo dia”.
Hitler ficou mesmo muito satisfeito com a declaração
de guerra, e mais ainda com sua participação ao lado dos
alemães. O futuro Führer mudou da noite para o dia. A
apatia e o ócio deram lugar a uma dedicação fanática, difi-
cilmente rivalizada por seus companheiros. Depois de ter
seus sonhos despedaçados e enfrentado a indigência, Hi-
tler encontrou no exército alemão o sentimento de unida-
de e a possibilidade de participação que sempre desejou.
O jovem austríaco, então com 25 anos, serviu no con-
flito como mensageiro. Anos depois, foi ridicularizado por
seus inimigos por conta desse posto nada glorioso. No en-
tanto, era uma posição que enfrentava um perigo demasia-
do. Os mensageiros levavam as ordens de um lado a outro
do front. Por conta disso, eram alvos potenciais. E Adolf
foi abnegado no cumprimento do dever.
Como fazia com tudo aquilo em que acreditava ver-
dadeiramente, dedicou-se de corpo e alma à tarefa. Pela


primeira vez na vida, sentiu-se completamente realizado e
reconhecido. Por duas vezes, foi condecorado com a Cruz
de Ferro. Na primeira, recebeu um emblema de segunda
classe, por colocar sua vida em perigo para proteger um
comandante em meio ao fogo inimigo. Na segunda con-
decoração, foi homemageado com uma Cruz de Ferro de
Primeira Classe – uma das medalhas mais difíceis de se
obter, símbolo de grande abnegação e sacrifício em defesa
da Alemanha – por ter levado uma mensagem vital, a um
posto extremamente distante do ponto de partida, sob in-
tenso fogo de artilharia.
Hitler foi, indiscutivelmente, um soldado exemplar.
Durante os quatro anos de conflito, teve apenas 90 dias
de licença. No entanto, ao mesmo tempo em que gozava
e da admiração dos seus superiores por causa do seu in-
crível senso de dever, o mesmo não acontecia com o resto
da soldadesca. Adolf foi definido por seus companheiros
como extravagante, sem senso de humor, com pouca paci-


ência e solitário. O cabo austríaco não mantinha qualquer
contato com familiares ou amigos. De fato, Hitler não re-
cebeu nem enviou correspondência alguma durante toda a
guerra. Seus companheiros durante esse período também
enfatizaram sua propensão a fazer inflamados discursos
sobre a impossibilidade da derrota.
A inevitável derrota, porém, acabou com os sonhos de
guerra do cabo mensageiro. Ela veio, primeiro, em nível pes-
soal e, em seguida, em âmbito nacional. Num ataque bri-
tânico com gás tóxico, ocorrido entre 13 e 14 de outubro
de 1918, Hitler sofreu de cegueira temporária e foi enviado
ao hospital em Pasewalk. Pouco tempo depois, em 10 de
novembro, quando ainda se encontrava internado, recebeu
a notícia de que a Alemanha havia perdido a guerra, e de
que o kaiser Guilherme II abdicara. Seu amado país adoti-
vo era, então, uma república. Adolf registrou sua decepção
em Mein Kampf. “Tudo havia sido em vão. Os sacrifícios e
os trabalhos; em vão o sacrifício, a fome e a sede sofridos
pelo espaço de intermináveis meses; em vão as horas consa-
gradas ao dever sobressaltado pelo temor da morte; em vão
o sacrifício da vida de dois milhões de alemães.”
E foi nesse hospital em Pasewalk que o cabo Hitler,
tentando achar uma resposta que justificasse a derrota,

teve uma “iluminação”. Mais do que qualquer outra coisa,
ele buscava achar os culpados pelo fracasso. E, após certa
reflexão, decidiu que os responsáveis pela perda da guerra
tinham sido os judeus e os comunistas. “O kaiser Guilher-
me foi o primeiro imperador alemão que ofereceu sua mão
e amizade aos líderes do marxismo, sem pensar que os tra-
paceiros carecem de honra e sem perceber que, enquanto
apertavam com uma mão a destra imperial, com a outra
acariciavam o punhal”, registrou ele. Sobre os judeus, con-
cluiu que com eles “não se pode chegar a nenhum acordo”
e que “tratando-se de sujeitos de semelhante ralé, só serve
o inflexível ‘ou isso ou aquilo’”.
Esses pensamentos conduziram Hitler a uma outra
fase em sua vida, a uma saída pessoal que implicaria um
profundo envolvimento com o país que adotara. Como o
próprio futuro líder da Alemanha confessou anos depois,
foi durante sua internação em Pasewalk que decidiu se
tornar político.

Motivado pelo suporte recebido e para


evitar uma guerra civil que fragmentaria o país, no final de julho


de 1914, o Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia.


As outras potências europeias se lançaram no conflito, e, logo,


todo o continente virou palco de operações militares

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