faria as forças do Reichswehr passar para o lado dos rebel-
des. Mera ilusão. Embora milhares de pessoas tivessem,
de fato, acompanhado os revoltosos cantando hinos e pa-
lavras de ordem durante o percurso, quando se aproxima-
ram de uma barricada da polícia e do Reichswehr, acon-
teceu o inevitável. Sem aviso prévio, as forças governistas
abriram fogo. Os homens de Hitler responderam da mes-
ma forma, iniciando um tiroteio. O combate durou me-
nos de um minuto, mas, quando acabou, 18 mortos – 14
membros da SA e quatro policiais – jaziam no chão. O
próprio líder da SA, Hermann Göring, saíra ferido, e Hi-
tler, lançado no chão por um dos seus milicianos quando
este recebeu o impacto de um tiro, acabou a marcha com o
ombro deslocado. Ludendorff, por sua vez, caminhou até
as posições governistas e se rendeu.
DE TRAIDOR A PATRIOTA
Policiais mortos, ocupação de quartéis, tentativa de gol-
pe de Estado: o estrago provocado por Adolf Hitler e seus
seguidores implicaria, quase certamente, a pena de morte.
No entanto, quando o julgamento do líder dos partidos de
direita começou, o genial orador acabou revertendo comple-
tamente a situação e passou de acusado a acusador. Numa
tacada de mestre, o futuro líder da Alemanha acabou usan-
do o julgamento para promover a si mesmo e ao seu partido.
Sem procurar se defender, assumiu toda a responsabilidade
pela malograda conspiração, mas – e aí residiu a perspicácia
da sua defesa – afirmou num dos seus discursos incendiá-
rios que tentava salvar a Alemanha e, portanto, tinha agido
como patriota e não como traidor.
Em seu livro A Estratégia de Hitler (Madras Editora,
São Paulo), Pablo Jiménez Cores cita um trecho da fala
que Adolf proferiu em sua defesa: “mesmo que os juízes
deste Estado possam empenhar-se na condenação de nos-
sas ações, a história, deusa de uma verdade maior e de uma
lei melhor, há de sorrir quando desfizer o que foi feito nes-
te julgamento e nos declarar livres de culpa e isentos do
poder de expiação”. O resultado foi que os juízes acaba-
ram se curvando aos argumentos de Hitler. Sabiam que o
governo imposto pelo Tratado de Versalhes era mais uma
humilhação causada pelos inimigos e concordavam que a
Liga de Batalha lutava sinceramente para conduzir a Ale-
manha a uma solução melhor. Além disso, Adolf contava
com a simpatia – quando não com a fidelidade – de quase
todo o país. Assim, todos os envolvidos receberam penas
extremamente leves. Alguns foram até mesmo absolvidos.
Em termos políticos, o Putsch da Cervejaria acarretou
a fusão do NSDAP com as demais organizações da Liga
de Batalha num único partido, chamado de “Grande Co-
munidade Nacional Alemã”. A SA também se tornou in-
dependente do partido e seu fundiu às outras milícias de
direita. Quanto a Hitler, o cabeça do golpe mal-sucedido,
foi condenado a cinco anos de prisão, mas acabou cum-
prindo apenas 13 meses, numa confortável cela que mais
parecia um gabinete de trabalho. Lá, continuou recebendo
visitas de membros da elite de seu partido, além de con-
tar com a simpatia e o apoio dos guardas, dos carcereiros e
dos outros prisioneiros.
Ironicamente, o Putsch da Cervejaria acabou sedimen-
tando o sucesso de Adolf Hitler e do Nacional-Socialis-
mo. O futuro Führer soube aproveitar o tempo na prisão
para sistematizar o ideal nazista, escrevendo o livro que
viria a ser a bíblia da sua ideologia, a autobiografia Mein
Kampf, ou “Minha Luta”. E como uma fênix que renasce
das próprias cinzas, Hitler saiu da prisão renovado e mais
forte do que nunca. Provara sua coragem, sua energia e sua
determinação ao povo alemão, que agora o apoiava qua-
se que irrestritamente. Só faltava tomar o poder e guiar a
Alemanha rumo à “salvação” – ou aquilo que Adolf e seus
aliados imaginavam ser a salvação do país. Como todos sa-
bem, as circustâncias conduziram a Alemanha a uma nova
guerra e, ainda pior, à sua ruína.
Uma das consequências da invasão franco-belga foi a
união dos partidos de extrema direita sob a Kampfbund, ou
Liga de Batalha, da qual Hitler acabou sendo escolhido líder. Mas
não foi só isso que aconteceu. Motins nas ruas, greves,
anarquia, particularmente em Munique e na Baviera, a região
onde Adolf e o NSDAP atuavam, fizeram que o governo de Weimar
concedesse plenos poderes ao chefe do alto governo
da Baviera, Gustav Ritter von Kahr