Clipping Jornais - Banco Central (2022-04-24)

(Antfer) #1

Eleições, jornalismo e o cordão sanitário


Banco Central do Brasil

Jornal O Globo/Nacional - Opinião
domingo, 24 de abril de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: LUIZ CLAUDIO LATGE


Um cordão sanitário na vida política!


A experiência tomada da medicina para conter a
contaminação da sociedade por notícias falsas e
desinformação. Foi a saída encontrada em Portugal
para barrar o discurso de ódio da extrema direita e as
ameaças à lei e ao sistema democrático. Um movimento
que deve ser olhado com atenção, no Brasil, diante do
cenário em que vivemos.


A campanha eleitoral antecipa o desafio que o
jornalismo terá pela frente numa disputa que se anuncia
marcada pelo desrespeito às regras e pela
desinformação. Como, na verdade, já aconteceu na
eleição do presidente Jair Bolsonaro em2018. Kitgay,
orgias, Ursal... que fake news teremos de desmentir?


Cobrir, fiscalizar e denunciar aparecem entre as
atribuições do jornalismo. O exercício da atividade se dá
com base em valores e num código de ética
profissional. O respeito aos fatos, a obrigação de checar
todos os lados da notícia. O avanço das redes sociais,


no entanto, permite a comunicação direta com o público,
sem a intermediação das mídias tradicionais, jornais e
revistas, rádios e TVs. Nas redes não há condutas
definidas -minha casa, minhas regras; não há
compromisso de ouvir qualquer outro lado. Na
campanha difamatória, nem sequer se encontrará o
emissor, o responsável, escondido atrás de perfis falsos
e robôs.

No jornalismo profissional existem inúmeras iniciativas
para conter a enxurrada de notícias falsas. A Agência
Lupa, o consórcio Fato ou Fake, projetos como o
Comprova, Verifica e muitos outros, que, na pan-demia,
ajudaram a salvar vidas.

O alcance das notícias falsas, porém, é enorme - e a
resposta é quase sempre reativa, quando as mentiras já
se espalharam pelas redes sociais. É preciso que o
esforço não se resuma aos compromissos do jornalismo
profissional, mas envolva toda a sociedade. Essa é a
proposta de iniciativas como a Rede Nacional de
Combate à Desinformação, que conquista adesões nas
universidades, centros de pesquisa e instituições com
responsabilidade social. De todas as áreas, medicina,
engenharia, Direito, filosofia...

O que nos leva a Portugal. Lá, os partidos
democráticos, de direita ou esquerda, se uniram numa
iniciativa republicana no Parlamento: repudiam,
denunciam e neutralizam qualquer ato, discurso ou
proposta que propague mentiras, ameaças à
democracia ou defendam ações criminosas de qualquer
tipo. A ação se tornou conhecida como 'cordão sanitário'
-na epide-miologia, uma barreira criada para impedir a
proliferação de agente infeccioso. Nenhum ataque que
possa representar crime fica sem resposta.

O desafio da sociedade é que empresas, entidades e
organizações afirmem seu compromisso ético com a
informação, como um direito de todo cidadão, sem o
qual será impossível formar juízo sobre qualquer tema e
escolher livre e conscientemente o destino do país. Vale
para igrejas, empresas, instituições, times de futebol,
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