Clipping Jornais - Banco Central (2022-04-24)

(Antfer) #1

Eleição, populismo e voluntarismo


Banco Central do Brasil

Jornal O Estado de S. Paulo/Nacional - Espaço Aberto
domingo, 24 de abril de 2022
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Autor: Rolf Kuntz


Será difícil piorar, mas o dia a dia dos brasileiros poderá
continuar assombrado, nos próximos quatro anos, pelos
desarranjos de uma economia hoje marcada por
desemprego elevado, inflação acelerada, indústria
estagnada e muita insegurança quanto às finanças
públicas. Alguns indicadores poderão melhorar, mas
ninguém deve apostar em milagres. Pré-candidatos bem
pontuados, como Lula e Ciro Gomes, têm feito
promessas inquietantes. Na hipótese mais sombria, e
pouco provável neste momento, o presidente Jair
Bolsonaro ganhará um novo mandato. Em mais de três
anos no posto, ele jamais tentou governar, nunca
pareceu entender suas funções, deu precedência a
interesses pessoais e familiares, tornou-se um servidor
do Centrão e mais de uma vez ameaçou as instituições.
Sua reeleição seria uma catástrofe. Mas seus principais
concorrentes, embora menos assustadores, também
estão longe de prenunciar tempos de firme prosperidade
e maior moderação no uso do poder.


As promessas mais barulhentas são as do pré-
candidato petista e populista Luiz Inácio Lula da Silva.


Ele pretende, segundo anunciou, propor o fim do teto de
gastos, a anulação da reforma trabalhista e o
abandono das privatizações. Seu partido tem defendido
também a revogação da reforma da Previdência. Os
argumentos, como ocorre normalmente no discurso
petista, são pouco elaborados e nada convincentes para
pessoas medianamente informadas.

Não há por que revogar a modesta reforma trabalhista
aprovada no mandato do presidente Michel Temer. As
alterações deram maior flexibilidade ao sistema, sem
eliminar direitos. Permitiram, entre outras inovações, a
redistribuição das horas de descanso, novas divisões
das férias e a formalização de contratos de trabalho
intermitente, além de ampliar o poder de negociação
dos sindicatos. Os trabalhadores perderão, se essas e
outras facilidades forem eliminadas. Quanto ao
desemprego elevado nos últimos anos, é um legado da
presidente Dilma Rousseff, preservado pelo presidente
Bolsonaro e de nenhum modo atribuível à reforma
trabalhista.

Segundo ponto: extinguir o teto de gastos será um
retrocesso perigoso. As violações do teto pelo
presidente Jair Bolsonaro, com apoio do Centrão, de
nenhum modo comprovam a inutilidade ou a
desmoralização desse dispositivo. Ao contrário:
mostram a urgência de se restabelecer o limite à
gastança e à bandalheira. Apontar o teto como
obstáculo ao investimento e às boas políticas é valorizar
a irresponsabilidade e a incompetência.

Trabalhar com metas de investimento, como defende o
ex-governador - Wellington Dias, do Piauí, é
perfeitamente compatível com a disciplina fiscal, se um
governo for capaz de elaborar planos sérios e
inteligentes e de cuidar de sua execução. O teto será
dispensável quando o respeito ao dinheiro público se
tornar rotineiro em Brasília.

Sem bons programas, sem execução bem controlada e
sem uma clara ordenação de prioridades, projetos serão
sobrevalorizados, obras ficarão incompletas e muitos
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