Mateus Camillo - O futuro sairá caro no Brasil
Banco Central do Brasil
Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
domingo, 15 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: Mateus Camillo
Um futuro sem senhas. Essa foi uma das promessas no
Google I/O, eventual ocorrido na última quarta-feira (11)
em que a big tech anunciou as novidades do ano.
Ao introduzir a nova versão do Google Wallet, Sameer
Samat, vice-presidente de Gestão de Produtos,
comemorou a possibilidade de a ferramenta no celular
substituir a antiga carteira no bolso. 'Permite acesso
rápido e seguro a tudo o que é essencial no dia a dia',
disse. 'O aparelho de celular é essencial em toda
situação. É nossa melhor companhia digital.'
Um mundo em que o smartphone faz tudo em nossa
vida já é realidade na China há alguns anos e começa a
entrar na nossa rotina. Você se lembra da última vez
que segurou um ingresso físico na mão?
Tudo isso seria motivo de entusiasmo, mas não no
Brasil. Por aqui, a insegurança pública fará com que
cada novidade seja território fértil para os bandidos. O
país já vive uma epidemia de crimes digitais.
O Pix foi uma revolução digital no país, um dos raros
avanços do governo Bolsonaro. A facilidade de
transferência de dinheiro beneficiou pequenos
empresários, trabalhadores informais, campanhas de
doação, entre outros. Tão rápido quanto caiu no gosto
dos brasileiros, o Pix virou uma atração para furtos e
roubos de celulares. Quadrilhas especializaram-se em
limpar contas, driblando senhas, reconhecimento facial
e impressão digital.
No mesmo evento, o Google mostrou uns óculos, ainda
em desenvolvimento, que poderão exibir traduções de
conversas em tempo real.
Se o produto vingar, não será difícil imaginar as
manchetes da Folha no futuro. 'São Paulo vive onda de
furtos e roubos de óculos de turistas estrangeiros' ou
'Quadrilhas sequestram turistas estrangeiros na região
da Paulista'. Assim como começam a surgir seguros
para Pix, a solução será o brasileiro resignar-se a
contratar seguro para óculos -ou para a próxima
inovação.
O futuro está chegando, mas a que preço?
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