Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-28)

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ASCÂNIO SELEME


Banco Central do Brasil

Jornal O Globo/Nacional - Política
sábado, 28 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Assassinos fardados


O que ocorreu segunda-feira na Vila Cruzeiro foram
assassinatos feitos por policiais empoderados pelo seu
uniforme, pelas armas que usam e pelo incentivo
explícito do presidente da República à truculência com
método. Os 23 mortos no Rio foram alvo de abuso
policial. O mesmo ocorreu na cidade de Umbaúba, em
Sergipe, onde Genivaldo de Jesus Santos foi
imobilizado por policiais rodoviários federais e depois
asfixiado dentro da viatura diante de dezenas de
pessoas que filmaram o homem se debatendo no
camburão tomado por fumaça de gás lacrimogêneo e de
pimenta.


No Rio, apenas um dos mortos, a cabeleireira Gabrielle
Ferreira da Cunha, foi considerada inocente, ou dano
colateral, numa ação bem-sucedida, segundo a
secretaria de Segurança, o governador Cláudio Castro e
o presidente Bolsonaro. Um absurdo. Se não, como
explicar a sequência de informações desencontradas
dadas pelas autoridades? Em primeiro lugar, o horário
da ação, 4h da madrugada, só serviria para se pegar
alvos desprevenidos. Senão houve surpresa, comodiza


polícia, a operação foi malsucedida. A segunda
explicação, de que havia movimentação de bandidos
que se deslocavam para tomar outra comunidade, não
se sustenta por só haver vítimas civis.

Se bandidos estivessem mesmo se movimentando
estariam muito bem armados e haveria um número
grande de baixas do lado policial, o que como se sabe
não aconteceu. Os policiais foram fortemente
confrontados, disse o governador. Neste caso, quanta
incompetência dos bandidos que não atingiram nenhum
policial. Falou-se então que aquela era uma operação
de inteligência planejada por meses. Nunca se viu antes
uma inteligência mais burra e macabra no Rio.

As autoridades informaram que a polícia fazia uma
operação contra roubo de carga, por isso a PRF foi
empregada. Depois a desculpa evoluiu para crimes
cometidos em rodovias. Por fim, o argumento foi que a
polícia executava mandados de prisão. Uma deslavada
mentira, porque por lei não se pode fazer prisões antes
das seis da manhã e depois das 20h. A menos que seja
em flagrante. O que houve, na verdade, foi uma
flagrante ação criminosa numa comunidade pobre do
Rio. Mais uma, aliás. Foram 74 durante este curto
mandato de Cláudio Castro, com 327 mortos. Uma
barbaridade.

Cláudio Castro, a cria perfeita de Jair Bolsonaro e
Wilson Witzel, está em campanha e deve ter achado
que um novo massacre poderia melhorar seus índices
de popularidade. Deve ter se inspirado em presidentes
americanos que gostam de arrumar uma guerra em ano
eleitoral.

Em Sergipe, o ato de extrema crueldade foi
acompanhado de deboche. 'Ele está melhor que nós aí
dentro', disse um policial para a mulher do executado,
Maria Fabiana, enquanto seu marido morria asfixiado
dentro da viatura. Genivaldo Jesus Santos é o George
Floydbrasileiro. Seucrime é ainda mais banal, pilotava
uma moto sem capacete. Como, aliás, Jair Bolsonaro
faz em suas motociatas eleitoreiras. Para ele, a PRF faz
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