Banco Central do Brasil
Revista Exame/Nacional - Opinião
terça-feira, 24 de maio de 2022
Banco Central - Perfil 1 - Câmbio
curto prazo, os próximos meses, eu arriscaria dizer que
essa volatilidade será cada vez mais tendenciosa para
cima. O mercado local se voltará para a conjuntura
local, expondo todas as suas fraquezas.
Em poucas semanas, seremos inundados por pesquisas
eleitorais, mexericos de jornal, enfatizando um ou outro
candidato, rumores trazendo e “destrazendo” nomes
para cadeiras ministeriais, analistas de jingles de
campanha. E essa ansiedade, mesmo que
conhecidamente efêmera, tomará conta dos agentes de
mercado e causará pressão nos preços dos ativos. E
muita, mas muita volatilidade — já falei isso? O ponto
adicional são as surpresas que costumam acontecer
nas eleições brasileiras. As últimas duas corridas, por
exemplo, foram marcadas por duas tragédias decisivas
na história político-econômica brasileira.
Neste ano, o ambiente ainda mais polarizado pode
trazer novas questões a serem gerenciadas. Até o
momento, não há nome forte e competitivo de terceira
via (lembrando que o caráter de surpresa nas eleições
brasileiras põe tudo em terreno de possibilidade real).
Assim, hoje, se por um lado teremos um candidato de
oposição com os dados de conjuntura fraca para atacar,
por outro lado teremos o governo ávido por ser reeleito
com condições de feitos fiscais para cativar eleitores.
Após o terremoto das eleições, é sabido que o próximo
presidente não terá tarefa fácil. A conjuntura brasileira
estará bem machucada, com um cenário internacional
igualmente desafiador. Meus palpites para os dois
cenários prováveis:
Reeleição Em seu quarto ano de governo, nosso atual
presidente vem sofrendo quedas de “audiência”. Sua
popularidade caiu nos últimos meses, junto com a
frustração do ritmo da recuperação econômica. Por
outro lado, Bolsonaro ainda preserva cerca de 30% da
população ao seu lado, e sugere interesse em lançar
mão de gastos fiscais nos próximos meses para ajudar
a população a se lembrar de seu nome nas urnas.
Nesse cenário, a manutenção de um governo atual deve
levar a um tempero mais populista do que no primeiro
mandato. A intenção de se descrever como um governo
liberal, com agenda de privatizações, deve ser mantida.
Mas medidas fiscais para segurar a imagem também
serão um artefato importante. Um desafio será melhorar
a imagem institucional do país. Não vejo muito espaço
para isso, pois uma reeleição indicaria que o perfil atual
é vencedor, com contínuo risco fiscal. Assim, o risco-
país do Brasil deve seguir alto, com baixa atração de
investimentos, sobretudo aqueles de longo prazo. É
possível vermos continuidade de uma taxa de câmbio
mais desvalorizada do que a de outros emergentes,
crescimento baixo por falta de investimentos estruturais,
e uma constante briga para a inflação ficar na meta e,
consequentemente, os juros ficarem em dois dígitos.
Eleição da oposição A oposição tem nome — Luiz
Inácio Lula da Silva. Hoje, olhando as pesquisas, Lula
tem favoritismo na corrida eleitoral, com mais de 40%
das intenções de voto. Olhamos como referência 2002,
e acredito que iremos pelo mesmo caminho. O governo
deve entregar na largada um time econômico pró-
mercado e tentará melhorar a imagem institucional do
Brasil. A depender das consequências da guerra no
Leste Europeu, no curto prazo vejo espaço de melhoras
no risco-país e, consequentemente, na atração de
investimentos. Acho também que teremos um aumento
de confiança importante e, portanto, crescimento
econômico considerável em 2023. O ambiente para
novas reformas ainda será incerto, a depender da
formação do Congresso. A malemolência política desse
candidato pode ajudar. Contudo, o perfil “gastão” pode
falar mais alto no médio prazo, gerando inflação e
desarranjo nas contas fiscais. Não há lua de mel
duradoura, e a inflação seguirá presente. Se correr o
bicho pega, se ficar o bicho come.
Assuntos e Palavras-Chave: Banco Central - Perfil 1 -
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