Davos abdica de vocação para debater soluções e encampa defesa da
Ucrânia
Banco Central do Brasil
Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Mundo
Sunday, May 29, 2022
Banco Central - Perfil 1 - Davos
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Autor: Luciana Coelho
DAVOS A expectativa em torno da retomada do
encontro anual do Fórum Econômico Mundial em
Davos, adiado em janeiro de 2021 e novamente no
início deste ano devido à pandemia, era grande. Clima,
economia, sustentabilidade, inclusão, revolução no
mercado de trabalho - estava tudo na pauta.
A Guerra da Ucrânia, porém, ofuscou não só os debates
como os humores e os prognósticos do evento, que
acabou tendo menos quórum neste ano (muitos
convidados com Covid não puderam comparecer, e a
agenda mais atribulada de maio, na comparação com
janeiro, foi outro percalço).
Diferentemente do que houve em outras crises,
contudo, Davos abdicou de sua vocação de espaço
para se debater a solução de crises e problemas globais
e encampou a defesa do governo da Ucrânia.
Começou com o presidente Volodimir Zelenski, fazendo
por vídeo o primeiro discurso no espaço nobre do
evento e comparando a invasão de seu país com os
estopins da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais;
terminou como prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, no
centro da entrevista coletiva final do encontro,
conclamando ação contra uma guerra 'sem regras'.
Seus apelos foram reforçados por parlamentares,
jornalistas e ativistas ucranianos, tratados como estrelas
pela organização. E não faltou quem ose coasse. 'Uma
potência nuclear está se comportando como se tivesse
o direito de redesenhar fronteiras. [Vladimir] Putin quer o
retomo a um mundo no qual aforça determina o que é
certo', disse o premiê alemão, Olaf Scholz, em seu
discurso na quinta (26).
'Não é só a existência da Ucrânia como Estado que está
em jogo. Todo o sistema de cooperação internacional
criado depois de duas guerras mundiais devastadoras
para impedir que nunca mais isso acontecesse está em
jogo'
Antes, na terça-feira, a presidente da Comissão
Europeia, Ursula von der Leyen, ressaltou que a União
Europeia, pela primeira vez na história, estava
prestando ajuda militar e econômica a um país (o qual,
aliás, não integra o bloco).
A mínima dissonância nos mais de 450 painéis veio do
quase centenário Henry Kissinger, ex-secretário de
Estado americano que já viveu muitas guerras e
participou do debate portelão, advertindo que a
negociação entre as partes é urgente e deveria incluir
acessão de território por Kiev. Apoiou-os ucranianos,
mas sugeriu que os demais governos reduzam a
pressão sobre Moscou. Entre os 107 países de alguma
forma representados no evento, a Rússia, outrora um
participante ativo, nem sequer constava. A Casa da
Rússia, sempre uma das maiores atrações da avenida
principal de Davos, desapareceu, e no local foi aberta a
Casa dos Crimes de Guerra da Rússia. A China, aliada