A ira dos pobres contra Bolsonaro
Banco Central do Brasil
Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
Sunday, May 29, 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: Vinicius Torres Freire
A pesquisa Datafolha reforçou a ideia de que a
estratégia das candidaturas nas próximas semanas será
dominada pela possibilidade de fim precoce da eleição
para presidente.
Assim, o destino de Ciro Gomes (PDT) e mesmo o de
Simone Tebet (MDB) têm relevância. Para haver
segundo turno, Lula da Silva (PT) teria de perder quatro
pontos, isso se outras candidaturas não caírem pelo
caminho. Considerando a margem de erro no limite,
teria de perder dois pontos.
É uma disputa "na margem", de parcela menor de votos,
pelas bordas, talvez bordas de sangue. Isto é, mais
violência de Jair Bolsonaro. Mas a baixaria desumana
pode piorar sua imagem entre pobres e mulheres,
indicam pesquisas qualitativas.
Para ir ao segundo turno, Ciro precisaria tirar 7 pontos
de Bolsonaro (isto é, levar 100% dos bolsonaristas que
podem mudar de voto) e 7 de Lula (64% dos lulistas que
talvez mudem de ideia). A fim de contribuir para um
segundo turno qualquer, precisaria tirar 4 pontos de
Lula. Mas Ciro anda estagnado perto de uns 8%.
No caso de Simone Tebet, a senadora precisaria
também de 7 pontos de Bolsonaro e 11 pontos de Lula
(100% dos lulistas que ora podem mudar de voto). De
resto, o Datafolha indica que a migração geral de votos
não favorece os dois de modo relevante.
Como a pré-candidata do MDB poderia ao menos ajudar
a embolar o jogo do primeiro turno? Tem pouco tempo
antes de ser arquivada ou cristianizada por seu partido
ou sabotada pelo PSDB (que não quer dividir dinheiro
com Simone e tem muito candidato bolsonarista). Qual
seria seu grande evento de explosão político-midiática?
Atacaria violentamente Lula e/ou Bolsonaro? Não
parece o jeito dela.
A campanha será curta. Começa em TV e rádio no final
de agosto. Difícil que novatos e retardatários cheguem
vivos até lá. Para piorar, ainda não têm mensagem
nova.
Ciro é conhecido. Simone, apesar da raridade de mulher
no topo da política, tende a vir com campanha de cara
tucana, derrotada nas últimas cinco eleições. Bolsonaro
não tem esquema político para ajudar os dois a
sobreviver; a força gravitacional dos líderes deve tirar-
lhes votos.
Quais as opções de Bolsonaro? Obter votos nas bordas
de sangue, com a demolição de Lula. Mas há
empecilhos fora desse ringue.
Pesquisas qualitativas encomendadas por dois partidos
indicam que o jeito violento de Bolsonaro pega mal, em
especial entre mulheres, pobres e não-brancos. Há
raiva ou pesar pelo fato de Bolsonaro não ligar para a
miséria, para preço de comida e falta de remédios, de
se divertir com motos e jet-skis, de ser "mal-educado" e
"não dar esperança".
Medidas eleitoreiras podem ter efeito, mas talvez tardio,