Público • Sexta-feira, 1 de Novembro de 2019 • 19
SOCIEDADE
Tanto o ministro das Infra-Estruturas
e Habitação, Pedro Nuno Santos,
como o Ministro do Ambiente e
Acção Climática, João Pedro Matos
Fernandes, se congratulam com a
decisão da Agência Portuguesa do
Ambiente (APA) e esperam que a
ANA-Aeroportos de Portugal, que
tem a concessão dos aeroportos,
tenha previsto o impacto que as
medidas mitigadoras exigidas pela
APA vão ter.
“Obviamente não se está à espera
que esse processo [da APA] seja só
para passar carimbo”, disse Pedro
Nuno Santos, acrescentando que é
preciso “estar preparado, obviamen-
te, para que no Ænal”, isso tenha um
encargo. “Mas não posso falar pela
ANA”, disse.
Pedindo “calma” para esperar
pelo que a empresa vai dizer em sede
de contraditório, o ministro das
Infra-Estruturas recusou dizer se o
calendário previsto pelo Governo se
mantém, mas foi deixando a ideia de
que não gostaria de ver novas exi-
gências, porque estava tudo previsto.
“Se não tivesse havido uma declara-
ção de impacte ambiental, não havia
aeroporto. Havendo, com condicio-
nantes, se forem cumpridas, pode
haver aeroporto. Não podemos acei-
tar a opinião da APA só quando nos
dá jeito”, disse.
O que a APA diz é que tem de haver
contrapartidas de mais de 48 milhões
Liliana Valente
Não podemos
aceitar a opinião
da APA só quando
nos dá jeito
Pedro Nuno Santos
Ministro das Infra-Estruturas
Governo satisfeito com “decisão técnica”.
ANA-Aeroportos de Portugal, nem por isso
[email protected]
do contrato com a ANA”, disse Pedro
Nuno Santos aos jornalistas. Na con-
ferência de imprensa, o ministro das
Infra-Estruturas e Habitação come-
çou por salientar que para o Governo
a localização do aeroporto no Mon-
tijo “era não só boa como as medidas
mitigadoras que a APA viesse a deÆ#
nir, [a localização] conseguia um
bom equilíbrio” até porque, lembrou
“não há aeroportos neutros do pon-
to de vista ambiental”.
O ministro do Ambiente assumiu
que “o Governo aceita a decisão da
Agência Portuguesa do Ambiente. É
uma decisão técnica.”
Surpresa e apreensão
A ANA Aeroportos de Portugal reagiu
à decisão da APA e em comunicado
enviado às redacções disse que vê
com surpresa e apreensão algumas
das medidas propostas para minimi-
zar o impacte ambiental do futuro
aeroporto do Montijo.
“A ANA vê com surpresa e apreen-
são algumas das medidas propostas,
que avaliará detalhadamente dentro
do prazo legal deÆnido”, aÆrma a
empresa. Diz ainda que, “em confor-
midade com o procedimento aplicá-
vel”, irá analisar “a exequibilidade,
equilíbrio e benefício ambiental des-
sas medidas, bem como as suas
implicações, tendo por base os pres-
supostos acordados anteriormente
para o projecto”. com Maria Lopes,
Sofia Rodrigues e Lusa
A ANA-Aeroportos diz que vai
analisar com detalhe as medidas
de euros para que o aeroporto avan-
ce. Verba que, tinha antes dito Matos
Fernandes, deverá estar acautelada
pelo promotor do projecto, a ANA.
Pedro Nuno Santos garantiu que
haverá interacções entre o Governo
e a empresa, mas para já espera que
decorram os prazos legais. “Teremos
oportunidade de interagir com a
ANA”, disse. Para depois acrescen-
tar: “Calma... vamos esperar que os
dez dias que os diferentes agentes
têm para se pronunciar decor-
ram.”
O calendário ainda não se sabe
como Æcará. Só depois da pronúncia
da ANA se seguirão “os próximos
passos, nomeadamente a negociação
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Aeroporto Humberto Delgado com-
pletou, pela primeira vez, doze meses
consecutivos com uma movimenta-
ção mensal de passageiros superior a
30 milhões de passageiros.
Os números da empresa indicam
um crescimento homólogo de passa-
geiros, no primeiro trimestre de 2019,
de 7,7%, explicado com a “excelente
época turística” e com um período
em que “o aeroporto de Lisboa bene-
Æciou do recente acréscimo de desti-
nos, incluindo uma ligação com Doha
operada pela Qatar Airways”.
Decisão “concertada”
Os autarcas comunistas ouvidos
ontem pelo PÚBLICO falam numa
decisão “concertada” e “condiciona-
da”. O presidente da Câmara Muni-
cipal do Seixal diz que “estava já tudo
concertado entre o Governo e a Vin-
ci Aeroportos”. É a única explicação
que encontra para a “insistência
num aeroporto no Montijo, com
todos estes problemas, que não exis-
tiriam na opção Alcochete”. Joaquim
Santos aponta os desenvolvimentos
públicos do processo, ontem, como
“encenação”. “As contrapartidas são
ridículas e ainda Æca mais ridículo
quando a ANA coloca em causa os
dois barcos para a Transtejo. Parece
uma encenação, um golpe de teatro
entre a APA e a ANA. Parece uma
novela, não apenas com um mau iní-
cio, mas também com um mau Æm”,
disse ao PÚBLICO o presidente da
Câmara do Seixal.
Também Rui Garcia (PCP), presi-
dente da Câmara da Moita e da Asso-
ciação de Municípios da Região de
Setúbal (AMRS), arrasa a decisão da
avaliação ambiental. “Perante os
enormes impactos negativos, o que
deveria ter acontecido era um pare-
cer desfavorável, mas o que veio a
prevalecer foi uma forte pressão e
condicionamento da parte do Gover-
no e da ANA para conduzir a esta
solução”, aÆrma. “Quando se decide
primeiro e avalia depois, quando sis-
tematicamente se diz que não há
alternativa, na prática, o que aconte-
ce é que se está a condicionar as deci-
sões da APA e a fazê-lo com argumen-
tos que são falsos, dado que a alter-
nativa do Campo de Tiro de Alcochete
existe e é melhor”, defende.
O autarca da Moita, o concelho
mais afectado com o ruído do novo
aeroporto, não acredita que as medi-
das de mitigação possam garantir o
bem-estar das populações. “Os efei-
tos vão existir de forma tremenda
junto da população das freguesias da
Baixa da Banheira e Vale da Amorei-
ra. É possível atenuar alguns efeitos
nas habitações, com o necessário
isolamento através da colocação de
vidros duplos ou caixilharias novas,
mas a verdade é que não vivemos
permanentemente dentro de casa ou
estamos no interior dos edifícios.
Quando saímos à rua, quando as
crianças vão ao recreio brincar, pra-
ticar desporto no espaço público ou
estamos a passear no jardim, não há
mitigação possível para essas situa-
ções e o bem-estar da vida das pes-
soas da zona afectada vai ser severa-
mente prejudicado.”
Rui Garcia acrescenta que “é ina-
ceitável que se pretenda instalar uma
infra-estrutura desta dimensão sem
considerar, sequer a médio prazo, a
questão da Terceira Travessia do
Tejo. O que a APA aÆrma ser neces-
sário são os barcos da Transtejo,
entre outras medidas pontuais posi-
tivas, mas o cerne da questão é a
necessidade da terceira travessia,
com a componente ferroviária, por-
que só isso é que pode desbloquear
a situação para ligar as duas mar-
gens”, defende.
s
nião
ando
turas