Freud e seus Fantasmas - Rafael Rocha Daud

(Antfer) #1

67


Além do princípio de prazer
Freud passou a desconfiar de sua teoria do princípio
de prazer quando se deparou com esses fatos. Não eram
exceções mal analisadas, mas uma quantidade surpreendente
de pessoas, adoecidas pela guerra, que pareciam se afastar
do funcionamento do princípio de prazer, assim como do
princípio de realidade que o serve, e repetir, de maneira até
mesmo alucinatória, experiências não de satisfação, mas de
desprazer, experiências de trauma e de horror.


Foi com isso em mente que Freud reviu sua teoria num
texto chamado, muito propriamente, de “Além do princípio
de prazer”. Nesse texto, ele tentava explicar como esse tipo de
experiência, que havia observado em muitos de seus pacientes,
seria possível.


A chave para a compreensão disso veio de maneira muito
insuspeita, como várias das descobertas freudianas. Um dia ele
observa um de seus netos, então um bebê que ainda mal falava,
brincando com um carretel de madeira. Ele se achava sobre a
cama, por sobre a qual pendia um dossel, uma dessas armações
de madeira que havia em algumas camas antigamente. Esse
dossel, forrado por um tecido, criava uma cobertura, como
uma cortina, separando a cama do resto do quarto. O garoto,
então, jogava o carretel para além da cortina, onde desaparecia,
ficando preso apenas por uma corda que ele mantinha segura.
A seguir, puxava o carretel de volta, pela corda, fazendo-o
reaparecer. Repetia a brincadeira incessantemente e aparentava
desfrutar de um grande prazer nisso.


Junto com o movimento do carretel, a criança pronunciava
duas sílabas, mal articuladas, que Freud interpretou como
sendo o fort e o da, que em alemão, sua língua, significam:
lá fora e aqui. Trata-se de uma brincadeira, muito parecida,

Free download pdf