– Verificamos sempre as finanças de suspeitos nos casos de assaltos a
bancos, mas se calhar desta vez fui longe de mais...
– Eu disse que estava tudo bem, Beate. Nunca te desculpes por perguntas
que tu mesma fazes; desculpa-te por aquelas que não fazes.
O auxiliar chegou e destrancou a porta.
– Quanto tempo é que ele vai aqui ficar? – perguntou Harry.
– Vai ser enviado para casa na quarta-feira – disse o homem.
No carro a caminho do centro da cidade, Harry perguntou a Beate porque é
que o pessoal hospitalar «enviava sempre os pacientes para casa». Afinal, não
eram eles que forneciam o transporte, pois não? E eram os próprios pacientes
que decidiam se iam para casa, ou para qualquer outro sítio, não eram? Então
porque não se limitavam a dizer «o paciente vai para casa»? Ou «vai ter
alta»?
Beate não tinha qualquer opinião a esse respeito, e Harry concentrou-se no
tempo cinzento a pensar que começava a soar como um velho resmungão.
Anteriormente, fora apenas resmungão.
– Ele mudou o cabelo – disse Beate. – E usa óculos.
– Quem?
– O auxiliar.
– Oh, não sabia que se conheciam.
– Não conhecemos. Vi-o uma vez na praia de Huk. E no Eldorado. E em
Stortingsgata. Acho que foi em Stortingsgata... deve ter sido há cinco anos.
Harry observou-a.
– Não me tinha apercebido de que fazia o teu género.
– Não é isso – disse ela.
– Ah – disse Harry. – Esqueci-me. É aquele teu defeito cerebral.
Ela sorriu.
– Oslo é uma cidade pequena.
– Ah sim? Quantas vezes me viste antes de teres ido parar ao quartel-
general da Polícia?
– Uma vez. Há cinco anos.
– Onde foi isso?