em letras góticas: A CASA DA DOR. E debaixo destas: SALA DE CONFERÊNCIAS
- – Não é verdade, Hole?
Harry não respondeu. Não tinha quaisquer dúvidas quanto ao tipo de
estatuto lendário que Ivarsson tinha em mente. Nunca fizera a mais pequena
tentativa para esconder a sua opinião de que Harry era uma mancha na força,
e que deveria ter sido removido há anos.
Por fim, Ivarsson destrancou a porta e entraram. A Casa da Dor era a sala
onde a Unidade de Assaltos se dedicava ao estudo, edição e cópia de
gravações vídeo. Tinha no centro uma mesa enorme com três postos de
trabalho; sem janelas. As paredes estavam cobertas de prateleiras com
cassetes de vídeo, uma dúzia de cartazes de assaltantes procurados, um ecrã
grande numa das paredes, um mapa de Oslo e vários troféus de prisões bem-
sucedidas: por exemplo, ao lado da porta, pendiam da parede duas mangas de
lã com buracos para os olhos e boca. Para além disso, a sala continha
computadores cinzentos, televisores pretos, leitores de vídeo e DVD bem
como um certo número de outras máquinas que Harry não sabia identificar.
– O que é que a Briiigada de Homicídios conseguiu sacar do vídeo? –
perguntou Ivarsson, a deixar-se cair numa das cadeiras. Arrastou o «i» de um
modo exagerado.
– Qualquer coisa – disse Harry, a aproximar-se de uma prateleira de vídeos.
– Qualquer coisa?
– Não muito.
– Uma pena que vocês não tenham assistido à palestra que dei no refeitório,
em Setembro passado. Se não estou em erro, todas as unidades estiveram
representadas menos a vossa.
Ivarsson era alto, de membros longos, com uma franja de cabelo loiro e
ondulado acima de olhos azuis. O rosto tinha aquelas características
masculinas que os modelos alemães como os da Boss têm a tendência para
ter, e ainda estava bronzeado depois de muitas tardes de Verão nos campos de
ténis e talvez uma ou outra sessão de solário num centro de fitness . Em
resumo, Rune Ivarsson era aquilo que muitos poderiam considerar como um
homem atraente, e assim corroborava a teoria de Harry acerca da associação
entre a aparência e a competência no trabalho policial. Contudo, o que faltava
a Rune Ivarsson em talento de investigação era contrabalançado com um
excelente faro para a política e a capacidade de formar alianças no interior da
hierarquia do Quartel-general da Polícia. Além disso, Ivarsson tinha a
autoconfiança natural que muitos confundem com qualidades de liderança.