Harry teve a sensação de que vinham más notícias a caminho.
– Bem, tenho um vídeo da loja de conveniência do lado oposto ao banco,
onde ele arranjou um esconderijo antes do assalto.
– Deixe-me vê-lo.
Harry passou-o duas vezes.
– Então? – repetiu, quando a tempestade de neve surgiu no ecrã à frente
deles.
– Eu sei que é suposto ele estar atrás de outros assaltos e nós também os
podíamos ter visto – disse Raskol, a olhar para o relógio. – Mas é uma perda
de tempo.
– Pensei que tinha dito que o tempo era a única coisa que tinha de sobra.
– Uma mentira óbvia – disse Raskol, a levantar-se e a estender a mão. –
Tempo é a única coisa que não tenho. É melhor voltar a algemar-me, Spiuni.
Harry praguejou para si mesmo. Fechou firmemente as algemas nos pulsos
de Raskol, e arrastaram-se ambos de lado entre a mesa e a parede para se
dirigirem à porta. Harry pousou a mão na maçaneta.
– A maior parte dos assaltantes de bancos são almas simples – disse Raskol.
– É por isso que se transformam em assaltantes.
Harry parou.
– Um dos mais famosos assaltantes de bancos do mundo foi o americano
Willie Sutton – disse Raskol. – Quando foi preso e levado a tribunal, o juiz
perguntou-lhe porque é que ele assaltava bancos. Sutton respondeu: Porque é
aí que está o dinheiro . Tornou-se numa expressão corrente no inglês da
América, e parece-me que serve para nos mostrar como a língua pode ser tão
brilhantemente directa e simples. Para mim, apenas representa um idiota que
foi apanhado. Os bons assaltantes de bancos não são famosos nem citados.
Ninguém ouviu falar deles porque nunca foram apanhados. Porque não são
nem directos nem simples. Aquele para o qual está a olhar é um deles.
Harry esperou.
– Grette – disse Raskol.
– Grette? – Beate olhou para Harry com os olhos prestes a saltarem-lhe da
cabeça. – Grette? – A veia no seu pescoço inchou. – Grette tem um álibi!
Trond Grette é um contabilista que sofre de ansiedade, não um assaltante de
bancos! Trond Grette... é... é...