– Certo, mas o que era? Pele morta? Uma unha? Sangue?
– É assim tão importante? – A voz de Ivarsson tornara-se aguda e
impaciente.
Harry pensou que se devia manter calado. Devia desistir daquelas ofensivas
à Dom Quixote. De qualquer maneira indivíduos como Ivarsson nunca iriam
aprender.
– Talvez não – ouviu-se Harry dizer. – A não ser que se esteja interessado
naqueles minúsculos pormenores que solucionam os casos criminais.
Os olhos de Ivarsson lançaram punhais a Harry. Naquela sala de isolamento
especial, o silêncio caiu como uma pressão física sobre os ouvidos de todos.
Ivarsson abriu a boca para falar.
– Um pêlo das articulações.
Os dois homens viraram-se para olhar para Beate Lønn. Harry quase se
esquecera da presença dela. Beate olhou de um para outro, e repetiu quase
num sussurro:
– Pêlos das articulações. Os pêlos que temos nos dedos... não é assim que
se chamam...?
Ivarsson pigarreou.
– Tens razão, foi um pêlo. Mas pensei que fosse, embora não tenhamos de
entrar nisto em maior detalhe, um pêlo das costas da mão. Não é verdade,
Beate? – Sem esperar por uma resposta, bateu no vidro do seu enorme relógio
de pulso. – Tenho de ir. Entretenham-se com o vídeo.
Quando a porta se fechou atrás de Ivarsson, Beate tirou a cassete da mão de
Harry e no momento seguinte o leitor de cassetes já estava ligado.
– Dois pêlos – disse ela. – Na luva da mão esquerda. Da articulação. E o
aterro de lixo era em Karihaugen, não em Alnabru. Mas aquilo dos quatro
anos é verdade.
Harry lançou-lhe um olhar espantado.
– Isso não foi um pouco antes do teu tempo?
Ela encolheu os ombros enquanto pressionava o PLAY no controlo remoto.
– É apenas uma questão de se lerem os relatórios.
– Hm – disse Harry e estudou-lhe o perfil. Depois instalou-se mais
confortavelmente na cadeira. – Vamos ver se este também deixou alguns