Encostou um ouvido à porta, mas não ouviu nada. Espreitou pelo buraco da
fechadura, mas o interior estava escuro. Ou o alemão saíra ou estava a dormir.
Roger engoliu em seco. O coração batia-lhe acelerado, mas a meia anfetamina
que ingerira mantinha-o calmo. Verificou se a pistola estava carregada e a
patilha de segurança destravada, antes de girar ligeiramente a maçaneta da
porta. A porta estava aberta! Roger deslizou para o interior do quarto e fechou
silenciosamente a porta atrás de si. Imobilizou-se no escuro a conter a
respiração. Nem som ou sinal de alguém. Nenhum movimento, nenhuma
respiração. Apenas o revirar suave da ventoinha do tecto. Por sorte, Roger
conhecia bem o quarto. Quando os olhos se lhe adaptaram à escuridão,
apontou a pistola para o local onde sabia que se encontrava a cama em forma
de coração. Uma faixa de luar estreita lançou um brilho pálido sobre a cama
onde o cobertor fora afastado para o lado. Vazia. Pensou rapidamente. Poderia
o alemão ter saído e esquecido de fechar a porta? Se fosse esse o caso, Roger
ia instalar-se e esperar até que ele voltasse e se transformasse num alvo na
soleira da porta. Parecia demasiado bom para ser verdade, como um banco
que se tivesse esquecido de activar a fechadura temporizadora. Coisas que
não aconteciam. A ventoinha do tecto.
Naquele momento, fez-se luz.
Roger saltou ao ouvir o som repentino de um autoclismo vindo da casa de
banho. O tipo estava sentado na sanita! Roger apertou a pistola entre as mãos
e de braços estendidos apontou-a para o local onde sabia que se encontrava a
casa de banho. Passaram-se cinco segundos. Oito. Roger não conseguiu
conter a respiração durante mais tempo. De que raio é que o tipo estava à
espera? Tinha puxado o autoclismo. Doze segundos. Talvez tivesse ouvido
alguma coisa. Talvez estivesse a tentar fugir. Roger lembrou-se de que havia
uma pequena janela numa das paredes da casa de banho. Merda! Aquela era a
sua oportunidade; não podia deixar o tipo escapar. Rastejou até junto do
roupeiro que continha o roupão que ficava tão bem a Petra, parou em frente
da porta da casa de banho e pousou a mão na maçaneta. Respirou fundo.
Estava prestes a girá-la quando sentiu uma ligeira corrente de ar. Não de uma
ventoinha nem de uma janela aberta. Era outra coisa.
– Parado – disse uma voz atrás dele. E, depois de levantar a cabeça e olhar
para o espelho da porta da casa de banho, Roger fez exactamente isso. Parou,
gelou de tal maneira que os dentes lhe começaram a bater. A porta do roupeiro
abrira-se e no interior, entre os roupões brancos, distinguiu uma figura
poderosamente constituída. Mas não foi isso que lhe causou o repentino
ataque de frio. O efeito psicológico de se descobrir que alguém tem uma arma
muito maior que a nossa, muito maior do que aquela que estamos a segurar, e