– Vim perguntar-lhe se há alguma coisa que a polícia deva saber a respeito
da morte de Anna Bethsen. Já não temos assim tanta certeza se teria sido
suicídio. Sei que um colega meu tem estado a conduzir uma investigação
privada, e gostaria de saber se falou com ele.
Tom Waaler ouvira dizer que os animais, em especial os predadores,
conseguiam cheirar o medo. Não o surpreendia. O que o surpreendia é que
nem todos conseguiam cheirar o medo. O medo tinha o mesmo odor efémero
e amargo da urina de vaca.
– De que é que tem medo, frøken Monsen?
As pupilas dela dilataram-se ainda mais. As antenas de Waaler estavam
agora a rodar.
– É muito importante que nos ajude – disse Waaler. – A coisa mais
importante da relação entre a polícia e o público em geral é a honestidade, não
concorda?
Os olhos dela desviaram-se e Waaler arriscou:
– Acho que é possível que o meu colega esteja de algum modo envolvido
no caso.
O queixo descaiu-lhe e ela lançou-lhe um olhar desesperado. Bingo.
Sentaram-se na cozinha. As paredes castanhas estavam cobertas de
desenhos infantis. Waaler calculou que ela devia ser tia de um monte de
crianças. Tomou notas enquanto ela falava.
– Ouvi um estrondo no patamar, e quando saí vi um homem de gatas
mesmo junto à minha porta. Era óbvio que tinha caído, por isso perguntei-lhe
se precisava de ajuda mas não obtive uma resposta adequada. Subi as escadas
e toquei à campainha de Anna Bethsen, mas ninguém respondeu. Quando
voltei a descer as escadas, ajudei-o a levantar-se. As coisas que tinha nos
bolsos estavam espalhadas por todo o lado. Encontrei a sua carteira com o
nome e a morada. Depois ajudei-o até à rua, mandei parar um táxi que estava
a passar e dei a morada dele ao motorista. É tudo quanto sei.
– E tem a certeza de que é o mesmo indivíduo que a visitou mais tarde? Isto
é, Harry Hole?
Ela engoliu em seco. E assentiu.
– Isso é óptimo, Astrid. Como soube que ele esteve em casa de Anna?
– Ouvi-o chegar.