Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

Escutou. Não havia dúvida de que se ouviam mais cães. Olhou em volta.
Para as vivendas iluminadas e espalhadas pela colina escura. Pensou nos
quartos quentes e aconchegados atrás das janelas. Os noruegueses gostavam
de luzes. E tinham electricidade. Só a desligavam quando estavam de férias,
no Sul. O seu olhar saltou de casa para casa.


Tom Waaler ergueu os olhos para as casas isoladas que decoravam a
paisagem como luzes de Natal. Jardins grandes e escuros. Esplêndidos. Tinha
os pés pousados em cima do tabliê da carrinha especialmente transformada de
Victor. Estava preparada com o melhor equipamento de comunicação
disponível, por isso mudara o controle da operação para ali. Estava em
contacto via rádio com todas as unidades que fechavam o círculo à volta
daquela área. Olhou para o relógio. Os cães tinham saído; dentro de pouco
tempo ter-se-iam passado dez minutos desde que tinham penetrado na
escuridão com os seus tratadores, a moverem-se através dos jardins.


O rádio crepitou:
– Stasjonsveien para Victor zero um. Temos aqui um carro com um tal Stig
Antonsen, que vai a caminho de Revehiven 17. De regresso do trabalho, diz.
Devemos...?


– Verifiquem a identificação e a morada, e deixem-no passar – disse Waaler.
– Isto aplica-se a vocês todos, ok? Usem a cabeça.


Waaler tirou um CD do bolso de cima e enfiou-o no leitor. Vários falsettos.
Prince cantava «Thunder». O homem no assento do condutor ao seu lado
ergueu uma sobrancelha, mas Waaler fingiu não reparar e aumentou o
volume. Verso. Refrão. Verso. Refrão. Música seguinte: «Pop Daddy». Waaler
voltou a olhar para o relógio. Merda, os cães estavam a demorar tanto tempo.
Bateu no tabliê. O que lhe mereceu outro olhar de soslaio do condutor.


– Eles têm um rasto fresco de sangue para seguir – disse Waaler. – Será que
é assim tão difícil?


– São cães, não são robôs – disse o homem. – Tem calma, daqui a pouco
apanham-no.


O artista que seria para sempre conhecido como Prince ia a meio do
«Diamonds and Pearls» quando a informação chegou.


– Victor zero três para Victor zero um. Acho que o apanhámos. Estamos no
exterior de uma casa branca... hm, Erik está a tentar descobrir como se chama
a rua, mas de qualquer maneira o muro tem o número 16.


Waaler  baixou  a   música.
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