Agora, encontrava-se onde ele se encontrara. Com todas as pessoas que ela
observara nos vídeos de assaltos de todo o mundo, à noite, na Casa da Dor, a
perguntar-se em que é que estariam a pensar. Agora era a vez dela e ainda não
o sabia.
Depois alguém apagara a luz, o Sol desapareceu e viu-se imersa no frio.
Voltara a acordar no frio. Como se o primeiro despertar apenas fizesse parte
de um novo sonho. E recomeçara a contar. Mas agora estava a contar lugares
em que nunca estivera, pessoas que nunca encontrara, lágrimas que nunca
chorara, palavras que ainda nunca ouvira serem ditas.
– Sim, tenho – disse Harry. – Tenho esta prova. – Tirou do bolso uma folha
de papel e pousou-a em cima da mesa longa.
Ivarsson e Møller inclinaram-se ambos para a frente, batendo as cabeças.
– O que é isto? – rosnou Ivarsson. – «Um Dia Maravilhoso.»
– Rabiscos – disse Harry. – Escritos num bloco de apontamentos no
Hospital Gaustad. Duas testemunhas, Lønn e eu, estavam presentes e
podemos testemunhar que quem os escreveu foi Trond Grette.
– E?
Harry olhou para eles. Virou-lhes as costas e aproximou-se devagar da
janela.
– Já examinaram os vossos rabiscos quando imaginam que estão a pensar
noutra coisa? Podem ser bastante elucidativos. Foi por isso que trouxe o
papel, para ver se fazia algum sentido. A princípio, não fazia. Quero dizer,
quando a nossa mulher acaba de ser assassinada e se está fechado numa ala
psiquiátrica a escrever «Um Dia Maravilhoso», repetidas vezes, então é
porque se está completamente doido ou porque se está a escrever o contrário
daquilo que se está a pensar. Depois descobri uma coisa.
Oslo tinha uma tonalidade cinzento-clara como o rosto de um velho
cansado, mas naquele dia ao sol as poucas cores que ainda lhe restavam
resplandeciam. Como um sorriso final antes de uma despedida, pensou Harry.
– «Um Dia Maravilhoso» – disse. – Não é um pensamento, um comentário
ou uma afirmação. É um título. Como aqueles que se dão aos trabalhos de
casa na escola primária.
Uma carriça passou a voar pela janela.
– Trond Grette não estava a pensar, estava apenas a rabiscar em piloto
automático. Tal como o fizera nos seus tempos de escola quando se sentava a