A neve acumulava-se em montes profundos, enquanto os limpa-neves
atravessavam de um lado para o outro as ruas do centro de Oslo.
A mulher que fora atingida no balcão de Grensen do Den norske Bank teve
alta hospitalar. No Dagbladet , ela mostrou por onde a bala entrara com um
dedo e como estivera próxima de lhe atingir o coração com dois dedos. Agora
ia voltar para casa para tratar do marido e dos filhos durante o Natal, dizia o
jornal.
Às dez da manhã, de quarta-feira daquela mesma semana, Harry sacudiu a
neve das botas em frente da sala 3, Quartel-general da Polícia. Depois bateu.
– Entre, Hole – ouviu-se a voz ribombante do juiz Valderhaug. Era ele que
estava a conduzir a investigação interna da SEFO, relacionada com o tiroteio
ocorrido no terminal de contentores. Harry foi conduzido a uma cadeira em
frente de um tribunal de cinco pessoas. Para além de Valderhaug, estava
presente um procurador público, uma detective, um detective e o advogado de
defesa, Ola Lunde, que Harry sabia ser duro mas competente e honesto.
– Gostaríamos que nos contasse o que aconteceu antes de interrompermos a
sessão para o Natal – começou Valderhaug. – Pode dizer-nos de um modo tão
conciso quanto possível qual o seu papel no caso?
Ao som do teclado do computador do detective, Harry contou o seu breve
encontro com Alf Gunnerud. Quando terminou, Valderhaug agradeceu-lhe e
durante um bocado mexeu nalguns papéis, antes de encontrar aquilo que
procurava. Olhou por cima dos óculos para Harry.
– Gostaríamos de saber se, no seu breve encontro, com Gunnerud ficou
surpreendido quando ouviu dizer que ele apontou uma arma a um agente da
polícia.
Harry lembrou-se do que pensara ao ver Gunnerud nas escadas. Um jovem
com medo de voltar a ser espancado. Não um assassino endurecido. Harry
olhou o juiz nos olhos e disse:
– Não.
Valderhaug tirou os óculos.
– Mas quando Gunnerud se encontrou consigo, ele decidiu fugir. Pergunto-
me o motivo desta mudança de táctica quando se encontrou com Waaler.
– Não sei – respondeu Harry. – Não estava lá.
– Mas não acha que é estranho?
– Acho, sim.