como se tivesse nascido para desempenhar aquele papel.
- Senhor meu esposo – anunciou, sem reparar a quem se dirigia –, a cor do fundo está
escolhida e os contornos foram desenhados. Terei de voltar amanhã para que o mestre Lely pinte
o meu rosto.
O rei voltou-se. - Então fá-lo-á sem o prazer da companhia do seu esposo.
- Vossa Majestade! – exclamou Margaret.
- E permita-me que lhe sugira que se assegure de que o duque atende aos seus deveres em
Dorset, em vez de ser um empecilho em Londres.
Estalando os dedos para um dos seus criados que continha os spaniels agitados, o rei agarrou
na trela e partiu, com os cães a latirem a seu lado. - Meu senhor! – censurou Margaret num tom zangado. – Que fez para ofender desta forma Sua
Majestade? E logo agora, que queríamos reclamar o seu lugar na corte e mudar-nos para a
cidade. - Dificilmente poderiam vir agora, com a peste a espraiar-se, mãe – notou Mary. – Diz-se que
a própria corte se mudará, se o contágio continuar. - Cale-se! – Virou-se para a filha com um ar venenoso. – Quem quereria a opinião de uma
criança estúpida e feia? - A Mary não é nem feia nem estúpida – interveio Frances, enquanto dava um passo na
direção da rapariga. - E, diga-me, quem lhe perguntou? Que relação tem com a minha filha, para interferir quando
a mãe a admoesta?
Frances sabia encontrar-se em terreno perigoso mas, não obstante, prosseguiu. Ficara a gostar
de Mary e ela era também o único vínculo que a ligava ao duque. - A de alguém que teve a oportunidade de a conhecer nas últimas semanas e descobriu que
tem tanta inteligência quanto espírito. - Ah! É tão inútil como a mó rachada de Cobham. Nenhum pretendente considera sequer um
rosto como o dela, já que não há um dote suficientemente grande para o persuadir, apesar de já
ter dito a vários que não é preciso olhar para a lareira quando se ateia o lume, mas em vão.
Mary estremeceu perante a crueldade da mãe. - Deixe-a ficar na corte, então – sugeriu Frances, controlando o temperamento a bem de
Mary. - Ela tem a sua serventia. Tive de contratar outra criada desde que ela está em Londres.
Frances reparou no olhar de aviso que Mary lhe lançava. Ambas percebiam que era tudo isso
que ela era – ou seria – para a mãe. - Terá mais oportunidades de encontrar marido na corte do que em Cobham.
Margaret fitou-a com um olhar maldoso. - Mas isso não tem resultado para si, senhora, pois não? Ou será que ninguém quer apanhar
os restos do rei?
Frances teve vontade de esbofetear a odiosa mulher.