Envolveu-se num robe e avançou rapidamente até aos alojamentos da rainha, onde verificou
que Cary Frazier tivera a mesma ideia.
A rainha encontrava-se sentada na beira da cama, com as mãos cobertas de sangue por ter
tentado estancar o fluxo, com o olhar mais desesperado que Frances alguma vez vira.
A monarca abriu as mãos ensanguentadas e ali, na palma da sua mão, estava um ser minúsculo
- ainda não um menino ou uma menina, mas sem dúvida uma alma humana, com não mais do que
sete centímetros de comprimento.
Pegaram num pano e, com delicadeza, retiraram o fiapo de humanidade das mãos sangrentas
de Catarina.
Então a rainha pareceu acordar do seu pesadelo.- O bebé tem de ser batizado, caso contrário nunca se juntará a Deus Todo-Poderoso no céu.
- Então batizá-lo-emos aqui mesmo! – respondeu Frances, recordando que, em casos de
extrema necessidade, o sacramento do batismo poderia ser executado por qualquer pessoa, leiga
ou sacerdote. - Precisamos de água. – Cary olhou em redor, mas no quarto não havia água, por não ser
considerada uma bebida segura. – Vou à nascente buscar.
Correu pelo pomar que as separava da nascente principal e encheu uma taça.
Contudo, isso foi tudo aquilo que conseguiu, pois, ao regressar, sentou-se na cama ao lado da
rainha e escondeu o rosto entre as mãos.
Frances agarrou na taça e aspergiu a pequena criança morta, repetindo as palavras que
aprendera na infância: - Batizo-te em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Catarina virou-se para elas, com um olhar implorante e o desespero a brilhar-lhe nos olhos. - Desejo que ninguém saiba disto. Sobretudo, o rei meu esposo. Não seria capaz de suportar
a dor, os olhares e os sussurros que se seguiriam.
Com delicadeza, Frances pousou o bebé e limpou as mãos da rainha. - Mas e o seu estado, Majestade? – Apontou para o sangue na roupa da cama. – Poderá
precisar de um médico. - O rei tenciona ir para Hampton Court. Iremos para lá amanhã. A minha governanta, a
condessa de Penalva, assistir-me-á. Ela é muito sábia.
Frances mal se atrevia a fazer a pergunta seguinte. - E o bebé?
Catarina soluçou, após o que, fazendo um enorme esforço, se acalmou. - Enterrem-no, com todas as minhas preces e agradecimentos. Coloquem uma pequena cruz
por cima da cova. E, por favor, pela vossa honra como minhas aias de confiança, não contem a
ninguém.
Frances assentiu. - Incumbirei uma criada de dormir à sua porta e ficar à escuta, para o caso de precisar de
alguma coisa durante a noite. - Obrigada.