combate a incêndios pelos quais as guildas da cidade pagaram bom dinheiro, afinal.
Surgiram novidades de uma fonte inesperada quando Mary Lewis, alheia aos perigos a que se
arriscava quando encetara a viagem, chegou inesperadamente do rio, vinda de Cobham.
- Mary! Mary, está bem? Passou pela cidade e viu o fogo?
Ela estava com um ar pálido e cansado. Assentiu com a cabeça. - Vi para aí trezentas belas casas, todas a arder, e pessoas a correrem pelas ruas e a
rebentarem canos de madeira com machados para conseguirem encher os baldes. Outras corriam
em busca de barcos. Houve uma que saltou para o nosso bote, apesar de estarmos a avançar na
direção oposta à que queria. - Mas porque está aqui? E sozinha? Pensei que só viria daqui a alguns dias.
Em resposta, Mary sentou-se e começou a chorar baixinho. - É a minha mãe. Sei que no passado me tratou com severidade, mas recentemente parecia
estar mais branda. Talvez por fim tenha dado valor à filha que tem, apesar de ser uma filha feia
como eu.
Frances não sabia o que pensar. O rancor da duquesa pela filha ainda estava bem presente na
sua memória, mas percebia o amor que Mary lhe dedicava, apesar de tudo o que sofrera à mercê
de mãe tão desapiedada. - Está doente. Pensam que se trata de febre quartã ou de uma sezão. Ninguém sabe o que
fazer. A cada sangria, parece ficar mais fraca. – Mary levantou-se num pulo e agarrou-se a
Frances, o corpo magro sacudido por soluços. – Ela é tudo o que eu tenho. Não tenho irmãos
nem irmãs. O duque tem sido amável comigo, mais do que ela. E, no entanto, é a minha mãe.
Poderá ir à sua boticária? Disse-me que foram os bons serviços que lhe prestou que permitiram
que eu sobrevivesse à febre maculosa.
Frances desviou o olhar, com um conjunto de emoções antagónicas. Havia, para começar, o
perigo de ir à cidade quando parte desta ardia. E que razão tinha para colocar em risco as vidas
delas por causa de uma harpia que demonstrara tão pouca bondade para com aqueles que mais a
mereciam, incluindo a própria filha? Debaixo destas considerações existia outro pensamento
perigoso e mais profundo, que a envergonhava.
Se Margaret morresse, o duque, finalmente, seria livre.
E, todavia, foi esse o pensamento que a levou a concluir que não tinha alternativa. A bem da
sua própria consciência, teria de fazer tudo o que pudesse para salvar a duquesa. - Por favor, Frances – implorava Mary, com o rosto exangue de esforço –, tentemos ao menos
consultar essa sábia. - Se aquilo que ouvimos é verdade, é possível que tenha fugido ao fogo.
- Se tiver fugido, regressaremos a Cobham e rezaremos.
Frances acenou com a cabeça, pois tinha de dar à jovem ao menos aquela esperança. - Iremos. – Hesitou. – Como está o duque?
- Ele cuida bem dela, apesar dos diferendos entre eles, embora ela não lhe agradeça nada. E
bebe demasiado vinho. – Encolheu os ombros, com um pequeno sorriso a iluminar-lhe o rosto
contraído. – Mas quem poderia culpá-lo? A minha mãe levaria qualquer homem a beber!