Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • Tenho visto damas chegar e partir. A senhora era a melhor de todas. Na verdade, desejava
    que tivesse casado com o rei. Contudo, a rainha não morreu e eu não apoiaria um divórcio,
    como o duque de Buckingham tanto aconselha.

  • Mesmo que eu pudesse casar com o rei, não desejaria fazê-lo.

  • Mas porque escolhe o duque de Richmond?

  • Apesar de todos os riscos, ele ousa oferecer-me a mão e o coração sem precisar de um
    acordo ou de um dote. Para além disso, tenho de abandonar a corte. O rei torna-se cada vez
    mais impulsivo na perseguição que me faz, e talvez o que se diz de mim seja verdade, que
    apenas falta que me prostitua por ele. É a única ação honrosa que posso tomar.

  • Ah, honra – repetiu o chanceler num tom cínico. – O que é isso?

  • Ajudar-nos-á? Ambos sabemos que isto não passa de um estratagema para impedir o
    casamento.
    O chanceler levou a mão ao lado da cadeira de rodas, de onde tirou uma pequena pintura.
    Frances ficou pasmada ao ver que se tratava de uma miniatura do seu próprio retrato, vestida
    como a deusa Diana.
    O conde mostrou-lha.

  • Sempre adorei este quadro. Tudo o que havia de melhor na nossa corte quando foi
    restaurada encontra-se aqui. Beleza. Elegância. Uma nova liberdade. Olha em frente, de olhos
    límpidos, esperançosos, como uma corça na clareira de uma floresta. – Voltou a guardar a
    reprodução na parte lateral da cadeira. – Não queria vê-la caçada. Preferia que tivesse uma
    oportunidade de correr em liberdade, de fugir desta corte que se tornou corrupta, de um rei que
    perdeu a própria honra. Sim, ajudar-vos-ei.


A mensagem entregue ao rei, proveniente do seu chanceler, o conde de Clarendon, afirmava
que, embora Cobham Hall estivesse de facto afogada em dívidas, não sofria mais desse mal do
que metade das casas nobres de Inglaterra; e que, dado que rendas consideráveis deveriam ser
pagas pelos locatários do duque, tanto em Kent como na Escócia, naquela mesma semana, no
Dia da Anunciação da Virgem, em suma não havia razões financeiras que obstassem a que o
duque e Mistress Stuart não pudessem casar. Mais ainda, o chanceler acrescentava, talvez com
alguma provocação, que, dado que o duque partilhava com o rei um laço de sangue tão próximo,
não haveria problema algum com o seu crédito, já que a honra de Sua Majestade não permitira
que ele caísse em ruína.
Quando soube do veredito do chanceler, o rei pontapeou Gipsy, o seu cão arraçado de galgo,
e gritou com um criado por ter entornado vinho.
A corte observava, estupefacta, e esperava para ver o que faria o monarca em seguida.



  • O que esperava? – perguntou Lady Castlemaine quando se sentaram para cear. – Disse-lhe
    que o conde de Clarendon defende os seus próprios interesses. Para além disso – continuou,
    inclinando-se para lhe falar ao ouvido –, não ouviu tudo. Há quem diga que a aconselhou a
    agarrar-se ao duque, pois não encontrará outro do seu estatuto que se mostre preparado para a
    aceitar.

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