A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

em Jerusalém, e um vento suave soprava das colinas de Golã, formando
padrões na superfície prateada do lago. Shamron sentou-se numa das
cadeiras de ferro batido ao longo da balaustrada e, instantaneamente,
acendeu um de seus cigarros fedorentos. Gabriel entregou-lhe uma taça de
vinho e sentou ao seu lado.
— Ele não faz nada pelo meu coração — disse Shamron após beber
um pouco do vinho —, mas passei a apreciá-lo em minha velhice. Imagino
que me lembre das coisas para as quais não tive tempo na juventude: vinho,
crianças, férias. — Ele fez uma pausa e acrescentou: — Vida.
— Ainda há tempo, Ari.
— Poupe-me das frivolidades. O tempo agora é meu inimigo, filho.
— Então para que desperdiçar mesmo um minuto se envolvendo
com política?
— Existe uma diferença entre segurança e política.
— A segurança é meramente uma extensão da política, Ari.
— E se você estivesse aconselhando o primeiro-ministro quanto ao
que fazer com relação aos mísseis?
— É o trabalho de Uzi aconselhá-lo, não o meu.
Shamron resolveu mudar de assunto:
— Estive acompanhando as notícias de Londres com grande
interesse. Parece que seu amigo Jonathan Lancaster segue rumo à vitória.
— Ele deve ser o político mais sortudo do planeta.
— Sorte é algo importante na vida. Nunca tive muita. Nem você,
diga-se de passagem.
Gabriel não respondeu.
— E desnecessário dizer — prosseguiu Shamron — que esperamos
fervorosamente que as tendências eleitorais atuais continuem assim e
Lancaster ganhe. Se isso acontecer, temos certeza de que será o político
britânico mais pró-sionista desde Arthur Balfour.
— Você é mesmo um filho da mãe sem escrúpulos.
— Alguém tem que ser. — Shamron olhou para Gabriel com
seriedade por um momento. — Me desculpe por um dia tê-lo envolvido
neste assunto.
— Você conseguiu exatamente o que queria: Lancaster pode muito
bem figurar na folha de pagamento do Escritório. Ele está comprometido. É
a pior coisa para um líder.
— Comprometido por suas próprias ações, não pelas nossas.

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