por fim, Lavon, com cara de quem tinha ido parar no aeroporto por engano.
Ele perambulou um pouco pelo saguão, inspecionando cada assento vazio
com o cuidado de um homem que sofre de fobia de germes, antes de sentar-
se em frente a Gabriel. Eles nem trocaram olhares: eram duas sentinelas
numa vigília sem fim. Agora não havia nada para fazer além de esperar. A
espera, pensou Gabriel. Sempre a espera. Esperando por uma fonte.
Esperando pelo nascer do sol depois de uma noite de matança. E esperando
sua esposa carregar uma garota morta de volta para a terra dos vivos.
Ele olhou para o relógio novamente, e depois para Lavon.
— Onde elas estão? — perguntou.
Lavon respondeu sem baixar o jornal:
— Já passaram pela alfândega. Os funcionários só estão dando uma
olhada nas bagagens.
— Por quê?
— Como eu poderia saber?
— Me diga que não há nada de errado com a bagagem.
— A bagagem está certinha.
— Então por que estão verificando?
— Talvez estejam entediados. Ou gostem de tocar em roupas íntimas
femininas. Eles são russos, pelo amor de Deus.
— Quanto tempo, Eli?
— Dois minutos, talvez menos.
Os dois minutos de Eli passaram sem qualquer sinal delas. Seguidos
por um terceiro. E um interminável quarto. Gabriel encarava o relógio, o
carpete imundo, a criança ao seu lado — tudo menos a entrada do saguão
de embarque. Então, enfim, ele as vislumbrou com o canto do olho, um
lampejo de azul e branco, como uma bandeira sendo acenada. Mikhail
caminhava ao lado do capitão. Madeline estava com um sorriso nervoso e
parecia estar segurando o braço de Chiara para sentir-se mais segura. Ou
será que era o contrário? Gabriel não pôde ter certeza. Ele viu-os virar ao
mesmo tempo em direção ao portão e desaparecer pela passarela. Em
seguida, olhou para Lavon.
— Eu falei que ia ficar tudo bem — disse ele.
— Você nem ficou preocupado?
— Indescritivelmente aterrorizado.
— Por que não me disse?
Lavon não respondeu. Ele só ficou sentado lendo o jornal até o voo
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1