A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

Como vice-diretor do MI5, Seymour não tinha autoridade para
conceder status de desertora a uma espiã russa. A única pessoa que podia
fazer aquilo seria o ex-amante de Madeline, Jonathan Lancaster. Por isso, às
duas e quinze daquela tarde, Seymour se apresentou na Downing Street
sem aviso e exigiu uma conversa em particular com o primeiro-ministro. Por
coincidência, o encontro se deu na sala de reuniões. Lá, embaixo do mesmo
retrato da baronesa Thatcher, Seymour contou tudo o que tinha descoberto.
Que o presidente russo ordenara que a Volgatek utilizasse qualquer meio
possível para ganhar acesso ao petróleo do mar do Norte. Que Jeremy Fallon,
o assessor e amigo íntimo de Lancaster, o traíra por 5 milhões de moedas de
prata russa. E que Madeline Hart, sua antiga amante, era uma espiã nascida
na Rússia que ainda estava muito viva e havia solicitado asilo na Inglaterra.
Para seu crédito, Lancaster, embora visivelmente perturbado, não hesitou
em responder. Fallon tinha que partir, Madeline tinha que ficar, e que as
fichas caíssem onde fosse para elas caírem. Ele fez apenas um pedido: queria
contar tudo à esposa antes.
— Eu não esperaria muito tempo se fosse você, primeiro-ministro.
Lancaster estendeu o braço lentamente na direção do telefone.
Seymour se levantou e saiu do cômodo em silêncio.
Agora restava apenas o nome do repórter que receberia a exclusiva
mais sensacional da história política da Inglaterra. Seymour sugeriu Tony
Richmond, do Times, ou talvez Sue Gibbons, do Independent, mas Gabriel
se recusou. Ele tinha feito uma promessa, explicou, e pretendia cumpri-la.
Telefonou para o celular dela, mas a ligação caiu na caixa postal e ele deixou
uma mensagem breve. Ela retornou logo em seguida.
— Às quatro horas no Café Nero — disse Gabriel. — E desta vez não
se atrase.
Para profundo desgosto de Seymour, Gabriel e Madeline insistiram
em dar uma última volta juntos. Ambos seguiram para Millbank
enfrentando rajadas de vento; passaram pelos Victoria Tower Gardens, pela
Abadia de Westminster e pelo Palácio de Westminster. Às dez para as quatro,
entraram na cafeteria. Gabriel pediu café preto, Madeline quis um chá Earl
Grey com leite e um biscoito digestivo. Ela tirou um estojo compacto da bolsa
e deu uma olhada no próprio rosto pelo espelho.
— Como estou? — ela quis saber.
— Muito israelense.
— Isso é um elogio?

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