SHELTER ISLAND, NOVA YORK
Michael apanhou o último ferry da noite. Durante alguns instantes, deixou-
se ficar encostado ao parapeito a apanhar o ar frio, mas o vento e os salpicos da
água fizeram com que voltasse para dentro do Buick alugado no aeroporto JFK.
Telefonara a Adrian Carter a partir da Long Island Expressway e disse-lhe que
estava de regresso ao país. Carter quis saber onde diabo estivera metido. Michael
respondeu-lhe que iria à sede na tarde do dia seguinte e lhe explicaria tudo.
Quando Carter exigiu uma explicação naquele momento, Michael mentiu e disse
que a ligação do celular estava má, desligando em seguida. A última coisa que
ouviu foi Adrian Carter a gritar obscenidades, o que não era nada típico de sua
parte, ao pousar o telefone no gancho.
As vagas rebentavam na proa, encharcando o vidro. Michael ligou o limpa
para-brisa. As luzes de Cannon Point brilhavam do outro lado de Shelter Island
Sound. As imagens das últimas semanas vieram-lhe à cabeça: o Voo 002, Colin
Yardley, Heathrow, Drozdov, Muhammad Awad, Eric Stoltenberg, Astrid Vogel,
Outubro. Eram como fragmentos de uma melodia que não era capaz de completar.
Tinha a certeza de que a Espada de Gaza não tinha perpetrado o ataque. Acreditava
que era obra de outro grupo, ou de um indivíduo, que o levara a cabo em nome da
Espada de Gaza. Mas quem? E porquê? Outubro era apenas um assassino
contratado. Se estivesse envolvido, seria por mandado de outros. O mesmo se
aplicava a Astrid Vogel. A Fação do Exército Vermelho não possuía os recursos nem
motivo para realizar o ataque. Michael desconfiava saber a verdade, ou pelo menos
parte dela: o homem chamado Outubro fora contratado para eliminar a equipe que
levara a cabo o atentado.
O ferry atracou em Shelter Island. Michael ligou o motor e arrancou.
Shelter Island Heights estava deserta, as lojas e as casas vitorianas às escuras.
Acelerou ao longo de Winthrop Road, através de um túnel de árvores despidas, e
contornou Dering Harbor. No Verão, o porto estava repleto de barcos. Agora
encontrava-se deserto, exceto pelo Athena, que ondulava nas amarras sobre as
ondas encrespadas ao largo de Cannon Point.
Michael também desconfiava que fora ele o alvo no ferry no Canal, não
Muhammad Awad. Quem era o homem debaixo da balaclava? Seria Outubro? Já o
vira empunhar a arma, em pessoa, na Represa de Chelsea e em vídeo, e não parecia
ser o mesmo homem. Tinha de partir do princípio que continuava a ser um alvo e
era obrigado a encarar a possibilidade de agora enviarem Outubro, um dos
melhores assassinos do mundo, para realizar a tarefa. Teria de contar tudo a Carter