A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

─ Lê sempre as instruções antes?
Delaroche olhou-a com uma expressão zombeteira, como se considerasse a
pergunta ligeiramente ofensiva.
─ Claro que sim.
─ É por isso que você é tão bom em tudo o que faz. Jean-Paul Delaroche, o
homem metódico.
─ Todos nós temos nossos defeitos ─ retorquiu, guardando o mapa. ─ Eu
não ridicularizo os seus. ─ Engrenou a primeira no Range Rover.
─ Para onde vamos? ─ perguntou Astrid.
─ Para um lugar chamado Vermont. ─ É perto da nossa praia?
─ Nem por isso.
Bolas ─ disse ela, fechando os olhos. ─ Acorda-me quando chegarmos.


WASHINGTON, D. C.


O primeiro dia de exílio de Michael foi terrível. Ao amanhecer, quando o
despertador tocou, correu para o chuveiro e abriu a torneira antes de se aperceber
de que não tinha sítio nenhum para onde ir. Desceu as escadas e entrou na cozinha,
fez torradas e café para Elizabeth e levou-lhos. Ela tomou o pequeno-almoço na
cama e leu o Post. Meia hora depois, Elizabeth saía pela porta principal, vestida
para ir trabalhar com as suas duas pastas e os seus dois telemóveis. Michael ficou à
janela, a acenar como um idiota, à medida que ela se afastava no Mercedes. Tudo o
que precisava para completar o quadro era de um casaco de malha e de um
cachimbo.
Acabou de ler o jornal. Tentou ler um livro mas não conseguia concentrar-
se nas páginas. Tentou aproveitar o tempo verificando todas as fechaduras e
substituindo as pilhas do sistema de alarme. Isso demorou vinte minutos. Maria, a
empregada peruana, apareceu às dez horas e perseguiu-o de divisão em divisão
com o aspirador industrial e o produto tóxico para os móveis.
─ Está um dia lindo lá fora, Señor Miguel ─ disse ela, gritando-Ihe em
espanhol sobre o troar do aspirador. Maria só falava com ele na sua língua nativa. ─
Devia sair e fazer alguma coisa, em vez de ficar enfiado em casa o dia todo. Michael
percebeu que a sua própria empregada acabava de o pôr na rua. Subiu as escadas,
vestiu roupa de treino de nylon, calçou tênis e voltou para o rés-do-chão. Maria
enfiou-lhe um pedaço de papel na mão, uma lista de produtos de limpeza que
precisava da loja. Ele meteu a lista no bolso e saiu para a Street.
Estava um dia quente para o início de Dezembro, o tipo de tarde que fazia
sempre com que Michael pensasse que não havia bairro mais bonito do que

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