— A vida em Israel não é tão fácil. Desconfiamos por natureza de pessoas que
escolhem morar aqui. Alguns de nós não tiveram escolha. Alguns de nós não tinham para
onde ir.
— E isso torna você superior?
— Não — respondeu a mulher. — Isso me torna uma espécie de cínica.
Ela dirigiu lentamente pelos bangalôs sombreados. Havia crianças correndo pelos
oleandros.
— Nada mal, hein?
— Não — disse Natalie —, nada mal mesmo.
— Nahalal é o moshav mais antigo de Israel. Quando os primeiros judeus chegaram
aqui, em 1921, isso era um pântano infestado de mosquitos anófeles — ela fez uma pausa.
— Você conhece esse tipo de mosquito? Os anófeles transmitem malária.
— Eu sou médica — respondeu Natalie, cansada.
A mulher não pareceu nada impressionada.
— Eles drenaram os pântanos e transformaram esse lugar em terra produtiva — ela
balançou a cabeça. — Achamos que nossa vida é muito difícil, mas eles chegaram aqui
sem nada e construíram um país.
— Imagino que não tenham notado aquilo — disse Natalie, apontando com a cabeça
na direção da vila árabe encarapitada em um morro com vista para o vale. A mulher
olhou-a do canto dos olhos com desesperança.
— Você não acredita nessa bobagem, acredita?
— Que bobagem?
— Que roubamos a terra deles.
— Como você descreveria, então?
— Esta terra foi comprada pelo Fundo Nacional Judaico. Ninguém roubou coisa
nenhuma. Mas se você tem vergonha da nossa história, talvez devesse ter ficado na
França.
— Isso já não é mais uma opção.
— Você é de Marselha, certo?
— Sim.
— É um lugar interessante, Marselha. Um pouco miserável, mas legal.
— Você já foi para lá?
— Uma vez — disse a mulher — fui enviada para matar um terrorista.
Chegaram à entrada de um bangalô moderno. Na varanda coberta, com o rosto
escondido pela sombra, estava um homem vestido de calça jeans e uma jaqueta de couro.
A mulher parou o carro e desligou o motor.
— Tenho inveja de você, Natalie. Daria qualquer coisa para estar no seu lugar, mas
não posso. Não tenho seus dons.
— Sou só uma médica. Não imagino como posso ajudá-los.
— Vou deixar que ele explique — falou a mulher, olhando para o homem na
varanda.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1