A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Em Tel Aviv — Dina fechou a gaveta da cômoda com mais força do que
necessário. — Na rua Dizengoff. O atentado ao ônibus Número Cinco. Ficou sabendo
desse atentado?
Natalie assentiu com a cabeça. Fora em outubro de 1994, muito antes de ela e sua
família se mudarem para Israel; mas ela tinha visto o pequeno monumento cinza em
recordação na base de um cinamomo na calçada e, por acaso, certa vez comera no
charmoso café logo em frente.
— Você estava dentro do ônibus?
— Não — Dina respondeu. — Estava parada na calçada. Mas minha mãe e duas de
minhas irmãs estavam. E eu o vi antes de a bomba explodir.
— Quem?
— Abdel Rahim al-Souwi— respondeu Dina, como se lesse o nome em uma de suas
grossas pastas de arquivo. — Ele estava sentado do lado esquerdo atrás do motorista.
Tinha uma mochila a seus pés contendo 25 quilos de TNT de uso militar e pregos e
parafusos encharcados de veneno de rato. A bomba foi construída por Yahya Ayyash,
que era chamado de Engenheiro. Era uma de suas melhores, ou, pelo menos, foi o que
ele disse. Eu não sabia nada disso na época. Eu não sabia nada. Era uma menina. Era
inocente.
— E quando a bomba explodiu?
— O ônibus voou vários metros e se espatifou de novo na rua. Eu fui jogada no
chão. Conseguia ver as pessoas gritando ao meu redor, mas não ouvia nada; a onda da
explosão danificou meus tímpanos. Notei uma perna humana ao meu lado. Supus que
era minha, mas depois vi que as minhas duas pernas ainda estavam inteiras. O sangue e
o cheiro de carne queimada fizeram os primeiros policiais que chegaram à cena
vomitarem. Havia membros humanos nos cafés e pedaços de pele pendurados nas
árvores. O sangue ficou pingando em mim enquanto eu estava deitada na calçada sem
poder fazer nada. Naquela manhã, choveu sangue na rua Dizengoff.
— E sua mãe, suas irmãs?
— Morreram na hora. Eu vi quando os rabinos coletaram os restos delas com pinças
e colocaram em sacos plásticos. Foi isso que enterramos. Pedaços. Restos.
Natalie não disse nada, pois não havia nada a dizer.
— Então, você vai me desculpar — continuou Dina depois de um momento — por
achar seu comportamento de hoje intrigante. Nós não fazemos isso porque queremos.
Fazemos porque precisamos. Fazemos porque não temos escolha. É a única forma de
sobreviver nesta terra.
— Gostaria de poder ajudar, mas não posso.
— Que pena — disse Dina —, porque você é perfeita. E, sim, eu faria qualquer
coisa para estar no seu lugar agora. Eu os ouvi, os observei, os interroguei. Eu os
conheço melhor do que eles mesmos. Mas eu nunca estive na presença deles enquanto
planejam e tramam. Seria como estar no olho de um furacão. Eu daria qualquer coisa
por essa chance.

Free download pdf