Finalmente, na primeira sexta-feira à noite depois de sua volta, Roland Girard a
convidou novamente para um café depois do trabalho. Em vez de ir para o centro de
Paris, como fizera antes de ela partir para a Síria, ele a levou no sentido norte, para o
interior.
— Você não vai me vendar? — perguntou ela.
— Ahn?!
Em silêncio, ela observou o relógio e o velocímetro e pensou em uma estrada reta
como régua manchada de petróleo, esticando-se até o deserto. No fim da estrada, havia
uma grande casa com muitos cômodos e pátios. E, em um dos cômodos, enfaixado e
enfermo, estava Saladin.
— Pode me fazer um favor, Roland?
— Claro.
— Coloque uma música.
— Qual?
— Não importa. Qualquer uma está bom.
O portão era imponente, o caminho para carros era comprido e de cascalho. No fim
dele, coberta de hera e elegante, havia uma grande mansão. Roland Girard parou a
alguns metros da entrada. Deixou o motor ligado.
— Só tenho permissão de chegar até aqui. Estou chateado. Queria saber como foi.
Ela não respondeu.
— Você é muito corajosa de ir para aquele lugar, ficar na companhia daqueles
monstros.
— Você teria feito o mesmo.
— Nem em um milhão de anos.
Uma luz externa brilhou na escuridão, a porta da frente se abriu.
— Vai — disse Roland Girard. — Eles esperaram muito tempo para ver você.
Mikhail estava parado na entrada da casa. Natalie desceu do carro e se aproximou dele
lentamente.
— Estava começando a pensar que você tinha me esquecido.
— Nem por um minuto — ele a examinou. — Você está com uma cara péssima.
Ela olhou para trás dele, para o interior da enorme casa.
— Que lindo. Muito melhor que meu apartamentinho em Aubervilliers.
— Ou que aquele muquifo perto do Parque al-Rasheed.
— Vocês estavam me observando?
— O máximo possível. Sabemos que você foi levada para uma vila perto da fronteira
iraquiana, onde sem dúvida foi interrogada por um homem chamado Abu Ahmed al-