através da cortina diáfana que cobria o vidro por dentro. Não vislumbrou
vivalma. Em seguida tentou abrir a porta. Trancada. De modo que desceu os
degraus e foi à volta. Patrício ainda a chamou com um apelo surdo, mas não
foi atendido.
Nas traseiras, o jardim alargava-se, oferecendo um relvado não muito
extenso mas que se adivinhava aprazível, embora tivesse a relva por cortar há
várias semanas e, portanto, a tornar-se num matagal invadido por ervas
daninhas. O jardim era protegido ao fundo por um muro coberto de
trepadeiras, tapado pela sombra magnífica de uma árvore frondosa. Mais uma
vez, Regina tentou abrir a porta da marquise e mais uma vez encontrou-a
fechada por dentro. Se não tinha chave... procurou à volta, descobriu uma
vassoura abandonada no chão, pegou nela pela escova e...
— Regina, o que é que estás a fazer?!
— Afasta-te.
... investiu com a ponta do cabo contra um dos quadrados de vidro fosco
que compunham a porta de alumínio da marquise. Bateu três, quatro vezes,
até o conseguir partir. Enfiou a mão, destrancou a porta, abriu-a, entrou.
— Bonito — queixou-se Patrício. — Arrombamento e invasão de
propriedade alheia.
Que se lixe a propriedade alheia, pensou Regina. A vantagem de acreditar
que poderia matar alguém é que, ao pé disso, arrombar uma casa não tinha
nada de especial, pois não? Atravessou a cozinha, parou no corredor que
conduzia à porta principal, tendo à sua esquerda uma escada para o andar
superior e à direita a sala espaçosa que terminava na varanda fechada. Como
Patrício não parasse de resmungar, Regina voltou-se para trás e encarou-o.
— Se quiseres — disse, seca, peremptória — vai para o carro e espera-me
lá.
— Agora, que já cá estou dentro?
— Então, pára de reclamar e ajuda-me a procurar.
— A procurar o quê?
— Qualquer coisa que nos possa ajudar.
Regina ficou com o andar térreo, a sala, o escritório, a cozinha; Patrício
subiu a escada e foi ver o que havia lá em cima.
Ela vasculhou tudo o que havia para vasculhar: armários, gavetas, mesas,
debaixo das almofadas dos sofás, as prateleiras da pequena despensa, o