Público • Segunda-feira, 9 de Setembro de 2019 • 27
ADRIANO MIRANDA
O PÚBLICO pediu aos partidos polí-
ticos com assento na Assembleia da
República que revelassem qual a
posição que assumem relativamente
aos projectos de lítio. PS e PSD falta-
ram à chamada
BE “Qualquer proposta de
extracção deve ser
acompanhada de EIA”
O BE reconhece que o lítio como
necessário para o armazenamento de
energia renovável, mas avisa que o
licenciamento “tem inegavelmente
de ser diferente” daquele que atribuiu
a licença na mina da Argemela, para
o qual o BE apresentou uma resolu-
ção que foi aprovada por unanimida-
de. “Qualquer proposta de extracção
deve ser acompanhada de Estudo de
Impacto Ambiental, tenha o alcance
que tiver”, defende.
“As respostas do passado na
extracção de minério penalizaram
trabalhadores, ambiente, saúde
pública, segurança, de disponibili-
dade hídrica e de solos e mantive-
ram o nosso país pobre. Não pode-
mos manter a lógica de promoção
de uma economia extractivista, pri-
vada e que apenas é acessível à
maioria da população quando cres-
ce em escala”, refere Maria Manuel
Rola, deputada do BE. O BE enume-
ra uma vasta lista de condições,
dizendo que as explorações “devem
ter participação pública, devem ser
proibidas em qualquer território
classiÆcado ou em vias de classiÆca-
ção; devem incluir a antecipação da
reposição dos meios naturais
enquanto se faz a exploração e tam-
bém um fundo garantido antecipa-
damente para o plano de recupera-
ção desenhado para o Æm da lavra”.
Defende que a legislação que regula
a actividade mineira deve ser alte-
rada assim como regulamentar a
legislação de 2015.
Considera fundamental que se
garanta a participação e informação
à população “antes da decisão de pro-
ceder à prospecção e também à
exploração” e menciona que os
impactos brutais que estas explora-
ções têm nos países onde já existem
“deve ser uma preocupação”.
Vários protestos
nacionais este mês
O
s movimentos cívicos que
se têm manifestado
contra a exploração de
lítio em Portugal vão estar
todos juntos num encontro
nacional convocado para o
Município de Vila Nova de
Cerveira, no próximo dia 14 de
Setembro. Organizado pelo
movimento SOS Serra D’Arga,
o encontro tem presença
confirmada de mais nove
movimentos e grupos de
activistas que se têm
manifestado contra o avanço
dos pedidos de prospecção
pesquisa e exploração deste
mineral. Estão confirmados os
representantes do Movimento
Contra a Mineração Beira
Serra, o Movimento Anti-Lítio
Braga, o GPSA — Grupo
Preservação Serra da
Argemela, o Movimento de
Defesa do Ambiente e
Património do Alto Minho, a
Associação Covas do Barroso,
a associação Montalegre com
Vida, os Guardiões da Serra da
Estrela e ainda o movimento
Em Defesa da Serra da Peneda
e do Soajo.
Para 21 de Setembro está
marcada a manifestação Não
às minas — Contra a febre da
mineração em Portugal, em
Lisboa. Neste caso a
organização é do Grupo Lisboa
Contra as Minas; Movimento
Contra a Exploração de
Recursos Minerais no Concelho
de Montalegre; Associação
Unidos em Defesa de Covas do
Barroso; SOS Serra D`Arga e
Viana do Castelo; Amonde —
Lítio Não; Não à mina, Sim à
Vida; Movimento Contra
Mineração Beira Serra; Petição
Pela Preservação da Serra da
Argemela/Contra a Extracção
Mineira; Movimento de Defesa
do Ambiente e Património do
Alto Minho; Corema; Teia da
Terra; SOS — Serra da Cabreira;
Movimento de Cidadãos por
uma Estrela Viva; Movimento
SOS Terras do Cávado; e
Guardiões da Serra da Estrela.
Não querer que
se explore o lítio
só porque sim
não é sério
Hélder Amaral
Deputado do CDS-PP
O que dizem os partidos sobre a exploração?
Amaral. “Queremos fechar as centrais
termoeléctricas porque são poluido-
ras. Isto não é ideológico. É técnico”,
argumenta o deputado do CDS-PP.
“Não querer que se explore o lítio só
porque sim não é sério.”
O CDS-PP defende que os projectos
avancem com “muito cuidado”,
recorrendo às tecnologias menos
intrusivas que já vão existindo, e sem-
pre depois de se terem concretizado
Estudos de Impacto Ambiental que
os viabilizem. Esses estudos deverão
estabelecer as medidas compensató-
rias a prestar às populações, lembran-
do o CDS-PP que estes projectos
podem ser uma fonte de rendimentos
para os municípios, e que contribuem
para a Æxação da população.
“O que não é aceitável é que os pro-
jectos avancem nas costas das pes-
soas, com prepotência. Hélder Ama-
ral diz que deve ser feita sempre uma
análise custo-benefício destes projec-
tos e que o interesse das populações
deve ser sempre acautelado. “Se me
pergunta se é possível explorar em
áreas protegidas, eu digo de imediato
e liminarmente que não. Mas se for
ver os vários graus de protecção e de
classiÆcação que existem, no Ænal o
país esta quase totalmente coberto
por áreas classiÆcadas. É preciso
haver bom senso”, termina.
PA N “Populações dos
territórios afectados devem
participar na decisão”
O PAN (Pessoas, Animais, Natureza)
declara que “não é favorável aos pro-
jectos de exploração de lítio que estão
em concurso ou já concessionados
porque se inserem em grande parte
em áreas da Rede Nacional de Áreas
Protegidas, em virtude dos elevados
impactos que a mineração a céu aber-
to envolve e porque as populações
dos territórios afectados se devem
pronunciar e participar no processo
da tomada de decisão”.
“Não existe qualquer garantia que
estes trabalhos não irão contaminar
os lençóis freáticos, acarretando con-
sequentes e iminentes perigos para a
saúde pública, e que a pressão nos
habitats não tenha repercussões na
fauna e Çora.” Luísa Pinto
PCP “País deve assumir
controlo público dos seus
recursos”
O PCP considera que a garantia da
salvaguarda dos valores ambientais e
de equilíbrio ecológico que respeite
o direito das populações e o desenvol-
vimento sustentável de cada região
“é uma condição essencial que deve
estar presente no processo de conhe-
cimento e na ponderação do aprovei-
tamento dos recursos geológicos do
País.” E, pela “importância actual e
futura” que reconhece ao lítio, o PCP
diz que vai exigir “que não se precipi-
tem decisões que delapidem reservas
e recursos” e que os aproveitamentos
dos recursos geológicos devem estar
inseridos numa “estratégia de desen-
volvimento soberano construída na
base do interesse nacional.
“O PCP rejeita assim uma prospec-
ção e exploração dos recursos minerais
assente, quer em critérios que não con-
siderem os recursos ambientais e pai-
sagísticos como um elemento essencial
para o País, quer numa lógica tipo colo-
nial que visa apenas a apropriação de
matérias-primas sem o devido retorno
para o País, como está a acontecer com
licenças atribuídas a multinacionais
em várias zonas do País”, aÆrma oÆ#
cialmente o partido. “O que se impõe
é que, desde logo por razões de sobe-
rania, o País assuma o controlo público
dos seus recursos, tão mais importan-
tes quanto Ænitos” advoga.
CDS-PP “A discussão não
pode ser ideológica, o lítio
tem de ser explorado”
O deputado do CDS-PP Hélder Amaral
entende que o país deve olhar para a
questão das alterações climáticas
“com seriedade e com urgência” e
admitir que “a descarbonização da
economia não se faz com medidas
paliativas de fechar a torneira, ou con-
sumir menos plástico”. Portugal pode
aproveitar os recursos de lítio que
tem para continuar a dar bons exem-
plos, como tem feito nas energias
renováveis.
“A discussão não pode ser ideoló-
gica. Não podemos ser contra só por-
que sim”, começa por referir Hélder
o