Público - 09.09.2019

(Ron) #1
6 • Público • Segunda-feira, 9 de Setembro de 2019

DESTAQUE


REGRESSO ÀS AULAS


Primeiro ciclo,


um novo mundo


para conquistar


com “segurança


e tranquilidade”


Autonomizar, diÄcultar, responsabilizar.


Três ferramentas que, apontam os


especialistas, poderão ajudar as crianças


na chegada ao primeiro ciclo, um portal


para todo um novo mundo


P


rimeiro dia de escola. Quase
em vésperas de enviar um
Ælho para essa nova realida-
de, vale a pena o esforço para
recordar como foi o nosso: o
nervoso miudinho, a vontade
em agradar, a sensação de estar a
entrar num mundo completamente
novo, às vezes ainda sem amigos que
possam servir de suporte. Mesmo,
assim, uma chamada de atenção: “É
importante que os pais percebam que
a história dos Ælhos não é a deles”,
sublinha Rita Guapo, mestre em Psi-
cologia da Educação e autora do pro-
jecto Pés na Lua, através do qual se
debruça sobre a parentalidade.
Para esta proÆssional, vale a pena
preparar o caminho ainda antes do
primeiro dia, procurando riscar
expressões que aparentemente ino-
fensivas, como “agora é que vai ser a
sério” ou a indicação de que o que os
espera é “a escola dos crescidos”,
acabam por criar ansiedade desne-
cessária. “A entrada para o primeiro
ciclo é uma mudança grande, como
serão outras ao longo da vida”, con-
sidera, defendendo que “segurança
e tranquilidade” são meio caminho

para que o arranque se faça com o pé
direito. E dá dicas, que vão desde
conhecer previamente o espaço com
a criança até saber o nome das pes-
soas que passarão a fazer parte da
vida do Ælho (da professora, claro,
mas também das auxiliares).
Professora do primeiro ciclo há 22
anos, Susana Rodrigues, concorda
que é importante os pais conhecerem
a escola com os Ælhos, salientando
que na maioria das escolas, nos pri-
meiros dois ou três dias, é habitual
que os progenitores acompanhem os
miúdos até à sala. No entanto, passa-
do este período, é igualmente essen-
cial que os encarregados de educação
incentivem os Ælhos a dirigirem-se
sozinhos para a sala, permitindo-lhes
uma autonomia que será benéÆca.
Para esta docente, há outras tarefas
em que os alunos devem ser incluídos
desde o início e que, além de autono-
mia, também lhes dão responsabili-
dade: arrumar a mochila, veriÆcar o
material, preparar o lanche. E, no
caso de o aluno começar a revelar
pouca vontade de ir à escola, Susana
Rodrigues aconselha que os pais ten-
tem perceber, junto da criança, mas
também do professor, o que poderá
estar a causar esse mal-estar, de for-
ma a resolvê-lo o mais depressa pos-

sível, em vez de cederem à tentação
de faltar um dia ou outro.
E isto quer dizer que, aÆnal, a
entrada para a escola é um processo
fácil? Na opinião de Maria Dulce Gon-
çalves, doutorada em Psicologia da
Educação, investigadora e docente na
Faculdade de Psicologia da Universi-
dade de Lisboa, é importante que os
pais “ajudem os Ælhos a prepararem-
se para uma aprendizagem difícil”,
sublinhando que não é necessário
que haja diÆculdades de aprendiza-
gem para que a mesma seja árdua.
“O sistema de ensino público é
inclusivo, com milhares de crianças
muitas vezes com outros patrimónios
culturais, históricos (...). Isto faz da
educação um caldo cultural que per-
mite a uma criança conhecer-se
melhor e, ao mesmo tempo, conhecer
crianças em contextos completamen-
te diferentes.” Um retrato positivo,
mas que faz com que o aluno de um
primeiro ano não esteja apenas a ini-
ciar um processo de aprendizagem
académica: há todo um novo mundo
que se abre. “E todos têm de fazer um
esforço numa determinada área”, aÆr-
ma, explicando que a “diÆculdade
funcional” é aquela que “desaÆa”, con-
tribuindo para um pensamento evo-
lutivo e para o sucesso. Até lá chegar,

Carla B. Ribeiro Como prevenir o bullying?


A


s relações conflituosas
entre colegas de escola
dão, por vezes, origem a
situações de bullying
que, segundo alerta Luís
Fernandes, co-autor de Plano
Bullying — Como Apagar o
Bullying da Escola ou de Diz
Não ao Bullying, podem ser
prevenidas: esteja a criança
no papel de agredido ou de
agressor — ou, ainda, de
instigador. E, seja qual for o
papel em que um filho se
encaixa, é necessário um
comportamento pró-activo.
Para tal, o psicólogo que se
tem dedicado a coordenar e a
supervisionar vários projectos
nesta área frisa que “a
comunicação entre pais e
filhos é essencial” —
sobretudo quando se sabe
que uma criança demora, em
média, mais de um ano a
denunciar uma situação de
violência. Por isso, aconselha
os pais a estarem atentos a

quaisquer alterações nos
hábitos das crianças: na
alimentação, no sono, no
choro. A professora do
primeiro ciclo Susana
Rodrigues concorda com o
psicólogo, acrescentando
que, para crianças com mais
dificuldade em exprimir
emoções, adoptou O Monstro
das Cores (ed. Nuvem de
Letras), criando o hábito de
os pequenos assinalarem o
seu estado de espírito através
de uma cor — algo que pode
ser feito na sala de aula, mas
também em casa.
E quando, por fim, um filho
se queixa? Luís Fernandes
aconselha os pais a não
enveredarem pelo caminho
da desvalorização ou da
culpabilização, procurando
averiguar junto da escola.
“Mas a primeira coisa a fazer
perante uma denúncia, antes
de tudo o mais, deve ser dar
um abraço.”
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