poderão existir, no futuro, novos atos intervencionistas do regime cubano; isso é uma coisa clara e,
como o interlocutor desta reunião nunca se manifestou a respeito desse problema, a Conferência caiu
num vácuo.."' No entanto, o Brasil, sabedor disso, omitiu-se pela abstenção e, convém lembrar, ao
que tudo indica, o presidente Geisel era pelo voto favorável.
A posição brasileira foi um jogo de paradoxos, difícil de explicar. O Brasil defendia com
entusiasmo o princípio de não-intervenção, porém não votou pela manutenção das sanções contra um
país que interviera nos negócios internos de uma nação sul-americana e que nenhuma garantia dava
de não continuar a proceder do mesmo modo. Nosso representante omite-se, e mais do que isto,
propõe a modificação do Tiar para, provavelmente, como mais tarde aconteceu com êxito, tentar
modificar o sistema de votação e permitir a suspensão das sanções.
A análise, mesmo realizada por leigos, do comportamento brasileiro nestes acontecimentos
realça o grande interesse em abrir o bloqueio de Cuba.
Por que motivos? Fica a resposta aos estudiosos da matéria.
Rememoremos os fatos. Inicialmente, segundo se informou, o presidente determinou o voto
favorável, deliberando, posteriormente, mudar para abstenção. Em Quito, embora reconhecesse a
possibilidade de a ilha socialista intervir noutros países, o chanceler brasileiro, alegando
necessidade de um estudo mais demorado sobre o problema, lança-se no caminho da procrastinação
e faz sugestão - logo recusada - de um recesso de três meses. Protraindo desta maneira talvez
conseguisse, durante essa suspensão temporária, modificar o sistema de votação que, naquela altura
dos trabalhos, já sabia, certamente, desfavorecer Cuba.
Este raciocínio - especulativo e lógico - encontra amparo na circunstância de o ministro Azeredo
da Silveira propor, após a derrota cubana, a revisão do Tratado Interamericano de Assistência
Recíproca, visando claramente ao reexame do seu Artigo 17 que, por sua exigência, impedira a
extinção do bloqueio.
Muitos oficiais e civis têm atribuído a responsabilidade desta política de aproximação com os
países comunistas ao ministro Azeredo da Silveira, opinião da qual divirjo. Acredito que o ministro
estivesse de acordo com a orientação traçada para seu Ministério, entretanto, julgo seu verdadeiro
inspirador o próprio Presidente da República, sob a influência do chefe de sua Casa Civil, Golbery
do Couto e Silva. Era hábito do presidente interferir em qualquer setor. Em certa oportunidade,
aludindo a uma medida tomada no Conselho de Desenvolvimento Econômico e tornada pública,
disse-me:
- Quem dirige a política econômica sou eu! Acabou-se a época em que mandava o Delfim!
E, por isso mesmo, no tradicional discurso do fim de 1978, foi obrigado a impingir ao clima e ao
petróleo - elementos que, logicamente, não se podem defender - o lamentável fracasso de seu
governo no ano que se escoava.